sábado, 10 de outubro de 2009

Porra no coraçãozinho

Este programa teria o mérito de comentar relações e fantasias sexuais nas sextas-feiras da Rede Globo. Em que "peca" esta iniciativa? Amor e Sexo não tem naturalidade ou franqueza.

Na logomarca, um espermatozóide chega a um coraçãozinho. Sobre esta imagem há pouco a dizer: ratifica a idéia de sexo/prazer ligado á reprodução, como se o espermatozóide fosse a expressão do exercício da sexualidade - crendo eu que o coraçãozinho refira-se ao "amor" do título.

Vejo nesta representação a restrição do contexto do programa, que limita expressões e informações acerca da homossexualidade ou mesmo de outras práticas sexuais menos ortodóxas. Com este filtro de hipocrisia, o programa não nos encaminha a nenhum avanço para o preenchimento do buraco ainda existente na programação de uma emissora que vive de alimentar a libido e a curiosidade sexual da população brasileira.

"Namorinho de portão", maravilhosa canção de Tom Zé, clássico rock brasileiro na voz de Gal Costa, é uma ode safada à pretensão de um "bom rapaz, direitinho" à transa com uma moça de família. O jogo entre o "rapaz" e a família da moça e a impressão de que a coisa vai ficando complicada, "já vi, já sei que a maré não é boa", não impedem o rapaz de ir levando o pai da menina na lábia. Tudo bem que ele pode ter em mente apenas o corpo da filha, contudo, pelo jeito e pela vigilância do quarteirão, esse lance vai dar em namoro sério e, se bobear o moço, em casório. Parece-me que o espermatozóide no coraçãozinho indica que a moça acabou grávida e aí, meu filho, já era, foi casório mesmo.

Portanto, esse programa é uma falácia e a abertura é apenas o começo de um percurso que sai da moita e vai para a cama king size. Não que um relacionamento pleno entre duas pessoas, com tesão e companherismo, seja uma fantasia a ser evitada. Ocorre que ter esta perspectiva como fundamento do programa elimina a possibilidade de falar objetivamente sobre a afetividade e a sexualidade, como coisas distintas, cada uma com suas dores e seus prazeres.

Um casamento que se preze implica a superação de diferentes desafios nos dois campos e, obviamente, eles se tornam simbióticos com a constância. Todavia, cá pra nós, misturar demais as duas coisas pode tornar o "amor" em desculpa para manter uma relação desgastada e o mesmo se pode dizer do sexo. Porque pode-se deixar de amar uma pessoa gostosa ou amar demais uma pessoa frígida e distante.

Fernanda Lima, por sua vez, é fria e falsa. Nada nela soa interessante ou verossímil. O roteiro do programa é de uma superficialidade gritante, os jogos são insossos e sem sentido e a banda de Leo Jaime me constrange. Não consigo entender o critério para "despir" os convidados, atores e atrizes globais levados a opinarem sobre sexo, reificando o mito de que sejam as celebridades os detentores do segredo do prazer e a Rede Globo o celeiro da procriação desejável pelo brasileiro médio. Aquela história de formar pares em shoppings ou praias é tão forçado, que o "Namoro na TV" de Silvio Santos me parece mais legítimo.

Sobre a sexóloga que credibiliza o programa, serei maudoso: esta senhora passa-me a mesma credibilidade que um marxista dirigindo um carro da moda, com gesticulação aristocrática. Isto é, o que ela diz sobre orgasmo parece passar longe de sua própria experiência.

Assim como Fernanda Lima - mãe de gêmeos e esposa de ator/modelo loiro e igualmente frio - que parece ter sua sexualidade 'planejada' na medida para emplacá-la como apresentadora de um programa como Amor e Sexo, já que sua carreira como atriz a levaria a nada e estava aposentada da carreira de modelo. Fernanda para mim cerca-se de lobbies. Sua história de vida exposta nas revistas prova-me apenas que o espermatozóide chegou duplamente ao seu "coraçãozinho". Acreditar que ela e seu homem sejam mestres na arte do sexo exige demais para o meu tesão.

Um comentário:

  1. Não me lembro se algum dia assisti a esse programa. E nem pretendo, até hoje nunca achei a menor graça.

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