quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Bem diferente das tirinhas

Aline, personagem do paulista Adão Iturrusgarai, ne série homônima apresentada às quintas pela Rede Globo, tornou-se numa mulher que precisa provar ser "diferente", como condição para ser considerada "moderna".

Nem falo dos seus dois namorados, porque com isso, na tela, ela apenas quer se mostrar "desejada", como condição para ser considerada "bonita".

Também não me refiro ao seu emprego precário, ao seu analista passivo (a quem ela também castra) e à sua provável baixa escolarização, porque com isso a televisão quer mostrá-la "descolada", como condição para ser considerada "superior".

Apenas acho que Aline é uma personagem oca e aí está seu forte. Espécie de prima mais nova e consciente da Rê Bordosa, Aline também é, a seu modo, o desencantamento do mundo. É uma menina auto-centrada e vazia. Tem vocação para rodear-se de homens passivos e castráveis.

Aline, como tira de humor, é uma crítica ácida a uma juventude que se perde justamente quando pretende se distanciar de "rótulos", como condição para ser considerada "livre". Nem deu certo para seus pais e para ela é apenas uma questão de tempo, até que o tédio a devore. Nas tirinhas, esta é a tônica implícita em sua personalidade, na tv há a tentação de equiparar as meninas no Brasil a esse ideal de modernidade (ou modismo?) urbanóide que a mim me parece cafona, muito cafona.

Não desejo nada a Aline, não quero transformá-la. Gosto dos traços de Adão Iturrusgarai, porque ele também não a leva a sério como "sujeito" e a explora maravilhosamente como "personagem". A rede Globo a enclausura numa condição feminina retrógrada e equivocada. Aline não tem ideologia e isso na série televisiva é um elogio à sua identidade. Querem mostrá-la "limpa", para que a consideradem "respeitável".

Aí está o problema, Aline não pedia respeito na tira de Iturrusgarai e ríamos de sua descaração. Essa da Globo é apenas uma menina tola e, por isso, rimos apenas de suas peripécias de garota mimada. Mil vezes a Aline de Adão, do que uma idiota dessas, buzinando besteiras em meu ouvido já por demais cansado de ruídos obtusos.



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