terça-feira, 22 de junho de 2010

CALA BOCA, e temos dito

Eu já queria escrever sobre o humor e o esporte na programação da Rede Globo há algum tempo e eis que surgiu o momento ideal. Entretanto, antes de comentar mais um homérico CALA BOCA no Twitter, vou lhe incitar com três questões que assaltam a mim, que não sou um espectador de esportes:

Por que a Rede Globo tem apelado para o "humor" em suas reportagens sobre futebol, nos últimos anos?
O que tem Tadeu Schmidt de engraçado?
E, finalmente, por que eu me tornei um fã de Dunga?

Vou elaborar resposta a cada uma destas perguntas.

A Rede Globo buscou no humor um ingrediente para manter a atenção do seu espectador futebolístico, uma vez que este já havia cedido seu apreço para outros canais de informação, muito provavelmente por ter enjoado de uma velha receita de comunicação centrada na opinião de sábios e experts esportivos, com suas vozes empoladas e seus jaquetões de botões dourados. Outra função do humor nas reportagens sobre esporte é conquistar um espectador mais jovem, afeto a uma linguagem mais coloquial e à interação com a informação transmitida. Contudo, erraram na dose, nos dois sentidos.

Eu sempre detestei aquele quase proselitismo dos que tratavam futebol como uma causa política, um assunto da maior importância. Enojam-me sempre as converas seriosas e demoradas na tela de tv sobre determinado lance do jogo, bem como todo o vocabulário que compõe um comentário sobre futebol.

Contudo, eu compreendo ser o futebol um elemento de nossa cultura absolutamente fundamental para a nossa agregação e para a nossa identificação como brasileiros. Para além dos incidiosos usos do esporte para a dominação política, sei que, na cultura, ele sempre foi um fator nacional relevante, em todas as comunidades. Se, em nosso Brasil de homens e mulheres educados para a política do favor e do mandonismo, o futebol cumpria (ou ainda cumpre?) uma função idiotizante, aí eram outros quinhentos, os quais sequer eram exclusividade nossa.

Aonde quer que se vá, encontrar-se-á um povo hipnotizado num estádio por uma partida de rugby, uma corrida de cavalos, ou uma partida de futebol. O que me incomoda é tornar o preselitismo num fator de distinção que, nessa atividade tão prosaica e elementar, apresentava ao brasileiro simplório, acomodado em seu sofá, com seu copo de cerveja e seu tira-gosto, um tipo garboso e imprestável, pago para despejar sapiências inócuas e para ser mais um, na telinha, a repetir: "você, 'Hommer Simpson' não sabe pensar, apenas sente. Eu penso por você e cale a sua boca!"

Ocorre que esse Hommer mudou e já não se ludibria mais com a insistente gritaria dos narradores futebolísticos. O que lhe foi imposto como alternativa, então? Um reporter engraçadinho. Assim, a Rede Globo parecia dizer: vamos pega-los pelo humor, já que 'os brasileiros' têm um humor peculiar e que ele permeia praticamente todas as ações destes 'Hommers'. Erraram no tipo, não na constatação.

Sim, porque somos humorados e a mega-piada CALA BOCA GALVAO afirma o nosso estilo. O 'humor' de Tadeu Schmidt, por seu turno, é tudo menos engraçado. Não é o humor do brasileiro médio, tampouco o brasileiro que eles parecem enxergar é o brasileiro que de fato existe. E daquí eu passo para a segunda resposta.


Tadeu Schmidt é um tremendo besta. Sabe aquele colega tosco, que faz gracinhas com sua voz estridente, que não sabe rir junto, mas apenas rir de (algo ou alguém)?

Aquele típico piadista de churrasco, de cuja piada não vale contestação ou intervenção e que o riso que ela provoca é mecânico? Sabe aquele chato, de inteligência mediana, que é suporável apenas por assumir, como estilo, o tipo 'genro que mamãe pediu a deus'?! Aquele que ocupa seu espaço entre os demais como que dizendo: "eu, do alto de minha sobriedade, vou rir enquanto vocês apenas vomitam. Eu sou demais! Invejem-me, seus bêbados!"

Esse é o humorista que a Globo escalou para hipnotizar com gargalhadas os Hommers Simpsons vidrados em futebol. Não é o cúmulo do desrespeito acreditar que os brasileiros espectadores de esporte se deixariam levar por isso?!

Tal qual um CQC, só que engomado, Tadeu Schmidt é um pulha assalariado, um pobre coitado que não se respeita e que não respeita os demais. Um lobo em pele de cordeiro, um daqueles 'genros que mamãe pediu a deus' que matam qualquer um de tédio! Esse moço, coitado, é um tolo. Sua façanha, que o credenciou a estar a cada domingo no Show da Vida (dele), é um quadro, "Bola murcha e Bola cheia", pelo qual ele esbanja talento para trocadilhos absurdamente imbecis. Seu taleto para a piada é tão irreal quanto a sua simpatia.

Ele mereceu o CALA BOCA, menos que GALVÃO, evidentemente, porque menos notório e menos notado. Porém, ganhou minha gratidão por ter criado, em meu panteão, um ídolo novo: Dunga.

Sou admirador de homens e mulheres independentes, francos e corajosos. Gosto dos que não têm medo, dos que se deixam guiar por seus institntos e por suas convicções. Quero o bem de quem tem seus princípios e faz deles bandeiras de suas batalhas. Eu confirmei, graças a Tadeu Schmidt, uma suspeita antiga: Dunga defende a mesma causa que eu.

Lutamos, juntos, contra esta hegemonia ilegítima e ultrapassada da Rede Globo de Televisão, ou melhor, de toda a Mídia Direitola, que se arroga no direito de influenciar decisões capitais para o Brasil.

Dunga se tornou meu ídolo, no exato momento em que eu ouvi, pela internet, após a exibição do Fantástico na Globo, o 'pronunciamento' desta emissora, cujo porta-voz foi o seu palhaço da vez, o mauricinho encapuzado, Tadeu Schmidt. Oh, coitado! Todavia, eu não esperava ver confirmada tão rapidamente a minha tese do post anterior, escrito no último dia 17, pela qual eu argumentei que o Brasil já luta contra a Globo, mas o que foi que me surpreendeu hoje pela manhã, nos trending topics do twitter? O sonoro CALA BOCA TADEU SCHMIDT, que dominou o mundo.

Desta vez, não queríamos somente fazer piada. Fomos mais diretos em nossa mensagem. CALA BOCA REDE GLOBO foi o subtexto. Estarmos imbuídos disso dá-me vontade de chorar! Num dia só, ganhei um general e um exército ou, para ser engraçadinho, num só dia ganhei uma seleção brasileira para eu torcer (cosa que nunca fiz na vida, juro) e um circo inteiro do qual eu rirei cada vez mais, junto com meus contemporâneos.

Perdeu, playboy! A casa caiu, a bola murchou, 'vaza'! Agora é a hora e a vez dos combatentes. Sai de baixo, que dia 25 vem mais na sua fuça. CALA BOCA:, e temos dito!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

CALA BOCA GALVAO


Fico imaginando o estarrecimento dos donos das grandes redes midiáticas brasileiras (ou mesmo de outros países) ao perceberem que seu "poder" já vai pelo ralo.

O fenômeno CALA BOCA GALVAO, que nasceu no twitter e atingiu jornais e televisões em todo o planeta, é a expressão do uso coletivo e inteligente de uma ferramenta digital para obtenção de domínio sobre a informação. Um verdadeiro descredenciamento daqueles que são pagos, ou pagam, para se fazerem ouvir incidiosamente, como se fossem os únicos detentores de um saber e dos quais nós, os espectadores, nos tornamos verdadeiros escravos.

Como não há sapiência nas falas de gente como esse Galvão Bueno, resta-nos responder à sua arrogância com uma ousadia bem maior que a que o seu salário lhe permite conquistar. Ele é apenas um funcionário da Rede Globo de televisão e, portanto, mais dominado que qualquer um dos que, para terem paz para vibrarem ao assistirem um espetáculo esportivo esperado por quatro anos,  sem serem importunados em sua privacidade por uma voz renitente e enfadonha que diz nada sobre tudo, gritaram, alto e claramente: CALA BOCA GALVÃO!



Se de início, a mensgem foi dirigida ao tal locutor, oportunamente, o Galvão foi se tornando cada vez mais arquetípico. Na expresão que rapidamente se espalhou pela internet, ele passou a concentrar significados múltiplos e complementares, para além das piadas com a Lady Gaga ou memso com os pássaros, embora esta imagem corresponda à sua fisionomia. Galvão, no twitter, passou a ser um símbolo que abarcasse toda uma comunidade de "jornalistas", "artistas" e "intelectuais" que serve obstinadamente aos interesses daqueles que os dominam pelo salário.

Galvão passou a ser também a ignomínia engravatada de um Arnaldo Jabor, a canastrice de Williams Waacks, a cara de pau do casal telejornal Nacional, a frivolidade do casal Huck, a empáfia grosseira e também verborrágica de Faustos Silvas e Gugus, a acintosa hipocrisia de Reginas Duartes, o cabelo alisado de Glórias Marias, além da indissimulada parcialidade de uma ficção que mais parece panfleto ideológico deste neoliberalismo cínico, que continua a endeusar caucasianos pequenoburgueses, como se "retratasse" um país qualquer, que não o Brasil.

Este CALA BOCA é o sinal de insubserviência, de um autêntico ato de desobediência. É quase a realização de um sonho Habermmaniano, uma sublevação inesperada e ofensiva daquele mesmo "povo" sempre tão "bem mandado", que comprava os mesmos produtos, nas horas marcadas por eles e pelos donos deles. Uma ação improvisada, porém deliberada por um desejo antigo de conseguir falar mais alto que esta gente. A Copa do Mundo é um desses momentos em que as vontades individuais se tornam imbuídas de sentimentos semelhantes, que levam a ações quase orquestradas. Eles pensavam que sua "ação pedagógica" pudesse ainda ser maior que a potencialidade nacional, ou que esta não se encaixaria jamais numa categoria política? Foi-se o tempo dos currais!

Devem estar atordoados, sem saber por onde começarem uma reação eficaz. Como bem lembrou Tsavvko, resta-lhes a tentativa de restrição de nossa liberdade online para fazerem valer seus interesses escusos. Contudo, eu duvido muitíssimo que venham a conseguir 'calar as bocas' de todos esses novos interlocutores dos meios de comunicação de massa.

Há mais a realizarmos do que ouvirmos o que eles querem dizer. E, embora o tráfego de informações na internet já seja bastante controlado (como já nos avisou minha querida M.I.A.), não há como frear uma ação criativa emanada por um cidadão conectado e, caso esta manifestação seja adotada como fala coletiva por milhões de outros cidadãos, haverá muito pouco que uma política privativa possa fazer.

Além do que, pensemos, já não se fazem mais Hommers Simpsons como antigamente, tampouco os Williams Bonners se mantiveram tão interessantes e sedutores, o que é ainda mais relevante. Assim, já não está tão numeroso o exército dos que se dispoem a repetir cegamente o que ouvem na televisão e o que leem nos jornais. A crise da profissão de jornalista é apenas reflexo desta atual indignação para com os notíciários e mesmo para com os  textos subjacentes aos roteiros de novelas, filmes e minisséries. Eles não queriam, ou sequer apostavam nesta possibilidade, porém ei-la viva: já não somos mais tão domináveis.

Portanto, esse CALA BOCA GALVAO é um ACORDA BRASIL, ou melhor, 'SAIAM FORA' MARINHOS, BISPOS MACEDOS, SAADS, CIVITAS! Esse CALA BOCA GALVAO - e todo o humor que o gerou e que dele foi gerado - é a expressão ideal da tal "inteligência coletiva", legítima expresão da cidadania, realização da democracia, propiciada pelo surgimento de um meio fluidio e ingovernável, como o é a internet. Sejamo-lhe gratos pelo início de nossa emancipação!

Eles devem estar embasbacados, sem dúvida. E já vinham ficando há anos, quando começaram a perder espaço para outras empresas, igualmente detestáveis. Desta vez, no entanto, passaram a sentir o golpe definitivo que os fará ter que ouvir as vozes dos que estavam fora. O golpe que os fará rever seus princípios e adotar atitude menos soberba. Este golpe se manifesta: na dificuldade de moldar os comportamentos sociais, mesmo com ofensivas como os BBBs da vida; na falência das telenovelas; no descrédito de "apresentadores" e "comentaristas"; e na contínua rejeição das mentiras interpostas por seus veículos de notícia. É o fim! Perderam, playboys!

E a resposta virá reiteradamente, na forma de negações aos seus ditames, como se vê com a enorme e estável popularidade de Lula, contradizendo toda uma campanha articulada de difamação e descredibilização. Certamente, ver-se-á também esta negação com a vitória de Dilma e com a perda de credibilidade de quem quer que se deixe envolver mais de perto em suas artimanhas contestáveis. E eles terão que 'calar suas bocas' e passar a nos perguntar o que queremos que eles digam, sob o risco de perderem completamente nossa atenção.

Para além de termos figurado autores da piada mais bem feita e genuína do Século XXI, uma realização coletiva de feito similar ao consagrado por Orson Welles, apesar deste nosso humor ter-nos feito heróis de uma nova era, orgulha-me o episódio CALA BOCA GALVAO pelo que ele tem de subversivo e simbólico para com nossa própria cultura.

O acerto de nossa parte foi tão eloquente, que faixas com a expressão CALA BOCA GALVAO têm invadido estádios sulafricanos, durante os jogos da Copa. No primeiro jogo, no vídeo acima, aquela faixa desapareceu em menos de dez minutos. Não sei se os nossos "comunicadores" e seus advogados foram poderosos o suficiente para obrigarem a sua retirada, prefiro crer que, dado o seu tamanho, ela atrapalhava a emissão das subliminaridades publicitárias em torno do campo de futebol. Não importa! Fizemo-nos ler em toda a rede mundial de computadores e temos invadido o território inimigo (a velha e boa telinha) para lançarmo-lhes novas bombas!

Brasileiros, fomos terroristas digitais numa guerra justa! Estou orguhoso de nós mesmos. Soubemos lutar e rimos enquanto o fazíamos. Demos mais uma lição ao mundo porém, antes, ensinamos a nós mesmos que, sim, podemos e vamos tornar diferentes as coisas de como elas estão.

Em alto e bom som, repitamos, enquanto for preciso: CALA BOCA GALVAO!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pena de Marina

Eu sinto pena de Marina Silva. Não por ela me parecer uma pessoa um tanto frágil, com o corpinho sempre a pedir repouso. Veja-a na capa da Istoé, acolhendo-se em suas mãos, indefesa, vestida com pulover de lã, em nosso "país tropical". Tadinha, parece febril. Contudo não é por isso que sinto pena, porque sei que ela é amada e terá sempre alguém a lhe cuidar com desvelo e, neste planeta, isso é mais do que precisamos.

Também não sinto pena de Marina por sua conversão ao pentecostalismo ultraconservador e de leitura restritiva da Bíblia, que tende a acreditar em cada vírgula do livro sagrado, desconsiderando o que ali houver de metafórico acerca da existência humana e seus conflitos subjetivos.

Não é por ela hoje acreditar na Bíbila como um compêndio de lutas do bem contra o mal e de normativas moralizantes adaptáveis à nossa época, mesmo sabendo que, como toda literatura, a Bíblia ancora-se em determinados contextos históricos e deve ser lido sob o filtro da cultura, sem que isso precise lhe extrair o mínimo de força simbólica. Não é por esta conversão que, para mim, torna-a alheia a cada verso de Augusto dos Anjos, ou mesmo a muitas das estrofes 'espiritualizantes' compostas por Gilberto Gil, que eu sinto pena de Marina Silva.

Eu sinto pena por Marina não se perceber vitimada por uma dessas insuspeitas articulações entre "bem-intencionados" e "ególatras corruptíveis", que costumam tornar os eventos políticos em festas cool, ao gosto de nossas elites "bem-informadas".

Marina é usada por todos os que se arvoram em negar a capacidade que a ignominiosa facção à direita de nossa política tem de, utilizando seu remanscente potencial eleitoral, atrair para si antigos "esquerdistas" que, insulflados pelo próprio ego, entregam de bandeja seus princípios, em troca de uma fatiazinha a mais num bolo que ainda imaginam fofo sobre a mesa.

Sinto pena de Marina Silva justamente por ela não perceber o quão refenizado se torna um partido da minimidade do PV diante destas investidas. Penso que, para setores tão agregados a propostas progressistas, especialmente o PV, ancorado nas causas ambientais, tornar-se em algum momento aliado de um DEM, por exemplo, é o mesmo que cuspir em sua história de lutas e esboçar um destino em que as personalidades que o compõem se verão sempre obrigadas a se contradizerem e a esmiuçarem argumentos toscos que lhes permitam justificar o ninho de ratos em que estarão metidos.

Desde que, no Rio, o PV inaugurou uma era de traição de princípios, aliando-se à direita nas eleições de 2002, se não me falha a memória, que eu conclui ser aquele o começo do fim do partido. Uma coisa é, num estado de menor relevância, aliarem-se dois grandes partidos antagônicos, numa manobra fisio-pragmática que, embora os manche em seus capitais políticos, não os impede de sairem ilesos, amparados pelo personalismo ainda presente em nosso debate político. Outra coisa muito diferente é um pequeno partido, ancorado na figura de uma personalidade que o representa, abrir-se ao inimigo, imaginando que esta personalidade terá meios de sozinha driblar os interesses escusos de um grupo de figurões da direita.

Ainda mais se esta personalidade verde for o controverso Gabeira. Alguém pode me dizer se existe no Brasil figuira menos confiável que este senhor? Com seus arroubos de vaidade e sua empáfia garbosa, este homem envergonha a política nacional, exatamente porque seus ternos bem cortados de hoje representam a perfeita evolução de sua tanga de crochê de outrora, mostrando que por trás de suas "lutas" esconde-se um pequeno-burguês vazio de verdadeiro comprometimento para com as causas que diz defender.


Sinto pena de Marina Silva por ter que dividir com José Serra alguns minutos na televisão, no Rio de Janeiro. Sinto pena dela por, em um eventual segundo turno ter, ou que ficar em cima do muro, ou ter que optar por apoiar ou ser apoiada por um candidato que está rodeado pelo que há de mais sórdido em nosso cenário político, grupo que não exitaria um segundo antes de mandar derrubar a amazônia e matar índios, se isso o ajudasse no acúmulo de mais alguns centavos.

Sinto pena de Marina Silva por ela ter que, em algum momento, definir-se finalmente. Ela é uma evangélica reacionária ou uma ambientalista, no que este termo tem de contraditório com as bases de sua "fé"?

Sinto pena de Marina Silva por, na Bahia, apoiar um Bassuma que, por meio da 'esperteza' de algum marketeiro, espalhou pelo estado um adesivo em que se lê "Assuma o verde", numa alusão ao seu nome, mas que, pelas graças da semiótica, pode retornar a ele mesmo, como que conclamando: "assuma-se, Bassuma, e 'se saia'!".

Assuma que seu posicionamento é incompatível com a luta por um desenvolvimento ambientalmente saudável, que perpasse a elevação, à categoria de Direitos, de certas prerrogativas sobre o corpo, sob o risco de, salvando árvores e baleias, deixarmos morrer à míngua milhares de moças de 14 anos, desesperadas por não poderem assumir uma gravidez.

A Política não é o campo da Moral, mas o meio pelo qual as diferentes morais possam se entender, sem se machucarem nas jugulares programáticas. Assim, mesmo sendo eu também contrário à prática do aborto, como político devo compreender que se trata de um problema de saúde pública e que se deve, sem hipocrisias, torná-lo num programa de respeito ao direito feminino de interromper uma gravidez, sob determinadas circunstâncias.

A Deus, o que é de Deus; aos humanos, a capacidade de pacificação. Que verde é esse que insufla a dúvida e a discórdia?! Assuma, Bassuma. Que pena de Marina!


Ela não deveria ter saído do PT e, quando o fez, demonstrou agir motivada por um sentimento igualmente incompatível ao seu discurso: a vaidade. Marina saiu do PT por descobrir que ela não seria a primeira mulher presidente da república. Não a culpo por seu ressentimento, afinal ela tem muitos dos requisitos, exceto dois, sumamente importantes: capacidade de diálogo e compreensão sistêmica dos interesses em jogo.

Ao optar pelo PV, clareou-se mais a sua motivação: garantia da sua tão ansiada candidatura. Entretanto, logo se percebe que a sendora se meteu num imbróglio: caso fosse eleita, teria, então, que renunciar à presidência, visto que as condições de melhorias interpostas ao Brasil implicam a busca de soluções conjuntas, as quais ela foi-se mostrando cada vez menos apta a facilitar, quando Ministra?

Sinto pena de Marina por esta contradição a que conscientemente entregou sua biografia e por hoje ter que mentir para tentar ganhar espaço no gritinho.

E, finalmente, pergunto-me: o que faz com que artistas, homossexuais e mulheres declarem seu voto em Marina Silva? Anti-fisiologismo? Mas, e a situação no Rio e os desdobramentos em nível nacional que ela sinaliza? Seria por conta do discurso ambiental? Mas, e as contradições na proposta, que parecem utópicas a ponto de contrariarem a tendência de aumento nos investimentos em infra-estrutura?

Seria, então, por um suposto prestígio à cultura nacional? Ora, as suas concepções religiosas não tornam Marina vulneráveis ao retrógrado, inclusive no campo das ciências, ou direito e ciência não são parte da cultura? Bom, seria mesmo as posturas conservadoras denunciando que, na verdade, nossos 'mudernos' são tão progressistas quanto Regina Duarte?! Sinal dos tempos....

Eu, enquanto me pergunto, espero pelos dias que virão. No fundo, há apenas dois discursos coerentes na disputa: o de Dilma e o de Plínio. Se não votarmos em Dilma, pode ser porque o PMDB está ali pertinho, ou por isso e aquilo, agora, por que não votarmos em Plínio? Será porque ele não é lá tão bonitinho?! É, vai ver seja isso.

Marina é ótima para a foto e melhor ainda para o travesseiro de quem se encanta com os sinais do avanço econômico, social e político brasileiro, mas que não quer sujar as mãos elegendo Temer para vice presidente. Concordo que não seja fácil fazê-lo. Porém, analisando os dados, vejo ser infinitamente pior entregar uma grama a mais de poder nas mãos de quem hoje tem rodeado a Sra. Marina Silva, inclusive seu vice. Pena, porque gosto dela. Pena, mil vezes pena. Contudo, tudo indica que assim o quis o Deus dela. Então, que assim o seja.