sábado, 20 de novembro de 2010

Nunca mais

Dou a minha cara a tapas: pelas vias democráticas, o PSDB não elegerá mais um presidente do Brasil.

A Direita, se reinventada, poderá manter-se como uma espécie de PMDB, sem acesso direto ao Poder Central pelos próximos 20 anos. A condição para isso é a de que nós, todos os brasileiros responsáveis, ajudemos a politizar a nossa população, fazendo-a discernir políticas públicas de políticas de compadrio. Isso, além de aprimorar a gestão pelo atual governo,posicionado francamente mais à esquerda, tornará o Estado e a Democracia brasileiros cada vez mais sólidos e populares.

Dilma será reeleita e sucedida por um nordestino. Hoje, aposto minha fichas em Eduardo Campos que, no segundo mandato Dilma, ocupará cargo nacional e fará seu nome conhecido para todo o Brasil.

Aécio, se quiser voltar a governar Minas Gerais, deve, nos próximos 8 anos, passar a cuidar de sua saúde, aprimorando seus hábitos. Mais do que vontade, uma campanha nacional exige força e disposição físicas, além de todo distanciamento das forças nefastas que operam em nossa economia pela criminalidade.

Embora um eventual governo Aécio Neves me pareça menos sombrio do que um  - graças a Deus -  improvável governo Serra, penso que esta direita, com Richa (logo quem?) ou sem Richa, com ou sem Aécio, não conseguirá se interpor a um Estado que, "pela primeira vez na história desse país", mostrou a que veio a toda a sua população e tem dado ao mundo um exemplo de como superar uma crise originária da ânsia especulativa dos liberais, formadores medulares do PSDB.

'Perderam, preibois'!. Gatinho por gatinho (ou alguém acha que Aécio tem outras qualidades eleitorais e de gestão para além de sua belezurinha de moço rico?) , Eduardo é muito mais saudável e simpático. Quanto ao Richa, bom, este daí, algo me diz, não se segura no governo do Paraná, ou melhor, não aguentará os balões d'água que certamente serão jogados sobre sua caravana, quando o povo deste estado se der conta de que, afinal, eram as pesquisas que estavam certas.

E tenho dito.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dilma Presidenta

Antes de retornar com um texto de reflexão, preciso registrar a minha grande alegria pela vitória da presidenta Dilma Rousseff.

A causa é justa e a luta continua.


Abraços aos companheiros.


Luz e força à nossa Presidenta!


A luta continua!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Desabafo De Um Devoto de São Miguel

Há sentimentos que eu evito sentir. Sentimentos que, quando inevitáveis, eu os ponho para fora por meio da poesia. Há vezes, entretanto, que nem os versos vêm a me socorrer e eu sou impelido a vociferar. É o que eu vou fazer agora.

Peço que se assente e não receba as linhas a seguir como um vômito - é uma oração visceral, do tipo que não se aprende no catecismo. Espécie de excremento, esta prece é cura.

Já que você servirá de testemunha deste ritual, deve por-se perpendicular às palavras, deixe esta rajada necessária porém repugante de letras, que sai de minhas entranhas, passar sem tocar em você. Agradeço-lhe por sua companhia e solidariedade.

Eu sinto ódio de quem atua na obscuridade, por métodos mais espúrios, para enganar as pessoas mais simples. São os anjos da desgraça, os enviados das trevas. E eu os odeio mais, quando atuam em nome de uma pretensa divindade. Odeio-os mais ainda quando defendem uma causa que sabem tão nefasta, que precisa lançar mão deste tipo de estratégia para se fazer valer frente os incautos.

Eu odeio a cara dissimulada da esposa mentirosa, odeio a boca que baba do marido presunçoso e igualmente mentiroso, que se julga acima dos demais homens. Odeio esta pose infame de uma família ideal, perfeita, como que célula da benevolência, mas de onde escore o fel imundo do desdém contra os demais seres humanos.

Eu odeio, neste momento, eu odeio muito a artimanha de luta baseada no golpe baixo, no rumor, no alimento das paixões mais elemtares e no medo. Trata-se de uma quase coação sobre quem tem menos elementos para fazer, rapidamente, um julgamento sólido e condizente com a realidade. Arte de covardes. Eu odeio este estado de coisas, porque ele planta a angústia, a tristeza e a dor, além do medo.

Ele faz com que os sentimentos emancipatórios e felizes se tornem poços de dúvidas. Ele cria o breu no horizonte. Esta estratégia insidiosa planta a sua própria derrota num vale de lama fética e fria, onde, infelizmente, temos que pisar, graças àqueles não menos odiosos que se dão o trabalho de difundir tais monstruosas idéias e espalhá-las em meu quintal.

Odeio-os todos, por me fazerem enxergar esta paisagem infernal. Odeio-os pela mentira, odeio-os pelo que fazem meus contemporâneos sentirem, e por tentarem consolá-los com as mesmas mãos que lhes sufocam. Odeio-os por serem maus. Evidentemente maus.

E esse ódio, querido(a) leitor(a), não é seu ou para você. É meu e é para estas criaturas diabólicas. Este ódio, que me alimenta para a luta, é ódio bendito, é heróico, é minha arma celestial. Não se assuste, que este ódio é o escudo do meu amor por você, brasileiro(a) por quem darei minha vida neste instante.

Comigo está o "Glorioso Príncipe do Céu, protetor das almas". Guerreiro angelical, que nos proteje no combate e torna este ódio em fonte iluminada.

(Respiro)

Que sejam as almas odiosas tocadas pela espada de São Miguel Arcanjo e a elas seja dado o destino que lhes for devido.

Estamos todos nas mãos do Deus das Horas e dos Dias.

"Cobri-nos, Miguel, com vosso escudo, contra os embustes e ciladas do maligno".

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A onda verde e a laranja

Uma "Onda verde" parece tomar as salas de estar das casas de classe média, no Brasil. Há uma semana, Marina Silva vem ganhando eleitorado entre  jovens instruídos, de famílias com renda familiar superior a 4 salários mínimos. Até à maquiagem cosmética ela cedeu, sem responder onde foi parar uma tal alergia insuportável.


O sentimento que impele esta escolha pela candidata do PV é o de evitar o voto em políticos corruptos, ou de protestar contra o clientelismo e a presença de oligarquias nos postos de mando da República. Acho este sentimento bastante nobre, contudo não posso deixar de notar que ele revela dois traços marcantes no comportamento desta parcela da população: a despolitização e a negação das mazelas da brasilidade.


Percebo claramente uma superficialização do argumento de escolha do voto. Para isso, as manchetes alarmistas dos jornais e telejornais dos grupos Folha, Estado, Abril, Bandeirantes e Globo ajudam bastante. Marina Silva, por sua vez, sabendo disso, repete-as em suas manifestações, sublinhando frases feitas sob medida para sensibilizar este público mediano. Por outro lado, ao atentar levemente contra o candidato José Serra, de modo a não identificar sua posição com a direita mais raivosa que explicitamente o cerca, a candidata verde cria uma cortina de fumaça sobre os políticos retrógrados que a ladeiam e que têm grande interesse em uma eleição desfavorável a Dilma, seja ela qual for.


Marina se locupleta da tática do medo, com a diferença de que esse medo que ela incita é um medo verde, cercado por um discurso genérico sobre temas nacionais, como se eles fossem problemas de governo. E aí Marina atua de modo bastante reprovável, porque nega a sua história administrativa, igualmente marcada, tanto por casos de corrupção, como de sucesso na execução de políticas públicas superadoras de problemas nacionais graves. O que nos leva a concluir que Marina, matreiramente, tenta enganar seu eleitor. E parece que vem conseguindo.


Então, chegamos ao segundo traço do comportamento classemediano que surfa na onda verde: a negação das mazelas da brasilidade.

Vejamos este vídeo em que Dilma rebateu Marina, num questionamento sobre corrupção "tão perto do presidente":




O clientelismo e o patrimonialismo são males que se conformaram ao modo brasileiro de fazer política. O combate a isso não pode passar pela negação deles, mas pelo enfrentamento. É cínico Marina evitar falar que o seu partido, o PV, é tão ou mais comprometido com as oligarquias que qualquer outro. Talvez mais, uma vez que, em diversos casos, especialmente no Rio e em São Paulo, o PV está organicamente ligado a casos sérios de corrupção. Enquanto partido pequeno, o PV refenizou-se aos grandes (DEM e PSDB, diga-se), aproveitando-se das benesses do clientelismo, contaminando-se na essência por este modo de fazer política.



Assim, é falsa a impressão de que Marina representa algum sopro de novidade no que diz respeito a uma política governamental limpa de práticas que ainda hoje nos enoja. E mais, tendo em vista os interesses econômicos e políticos que a rodeiam nestas eleições, sou levado a crer que Marina é, depois de Serra, a candidata mais suscetível à ocorrência de corrupção grave no governo.


E ainda temos o fato de que, em entrevistas e debates, Marina tem feito o desfavor de anunciar promessas pouco factíveis, enroladas num discurso professoral e bem intencionado. Ela generaliza bordões ambientais, de modo a negar ou minimizar os avanços dos últimos anos no combate ao desmatamento, no alcance das metas do milênio da ONU e no aumento de obras de saneamento - para citar causas ambientalmente relevantes. Marina apresenta uma postura obtusa neste sentido, até um tanto rancorosa.


A propósito do rancor, eu entranhei bastante sua saída do PT. As razões dadas por ela faziam algum sentido, porém não me convenceram, porque coincidiram com o aumento dos boatos acerca da escolha de Lula e do PT por Dilma, para as eleições de 2010. Sim, desde 2007, já circulavam boatos neste sentido. Ao sair do PT e migrar para o PV, com a garantia de sua candidatura à Presidência, Marina evidenciou a mim e a uma porção de outros observadores de política, que sua atitude foi, antes, motivada por ressentimento, vaidade e rancor, e não por uma razão atrelada à moralização da política brasileira.


Se Marina quisesse fincar pé na luta real contra a corrupção, ela teria se mantido no PT, aolado dos que comungam de suas causas, ou migrado para o PSOL, por exemplo, mas jamais para o PV. Ao fazê-lo e ao se misturar a Gabeira, Zequinha Sarney, entre outros "verdes", Marina passou a ser ladeada por figuras identificadas com o atraso, a demagogia e o obscurantismo na política nacional. Isso, sem falar na dificuldade de Marina em se posicionar acerca de temas caros ao desenvolvimento e aos movimentos sociais, dadas as suas inclinações religiosas.


Marina colocou-se, nestas eleições, numa encruzilhada política que ameaça manchar a sua reputação, tão integramente conquistada ao longo dos anos. A "onda verde" favorece a Serra, com a possibilidade de um segundo turno. Ao afagar Marina, a mídia a  instrumentaliza com argumentos escandalosamente enviezados na mentira e na falta de provas. 


Ao repeti-los com um discurso rebuscado e generalizante, Marina acaba por convencer pessoas jovens e suscetíveis, que não gostam de levar uma reflexão política complexa até o fim, ao tempo em que preferem acreditar que as mazelas de nossa identidade nacional nada têm a ver com elas.

45 perguntas a Marina Silva

O perfil @perguntadodia no Twitter postou 45 perguntas a Marina Silva e eu as considerei bastante plausíveis. Ao não respondê-las claramente, Marina mostra que sua candidatura éobscura e não garante um real avanço nacional no sentido do aprimoramento da administração pública e da proteção a direitos de parcelas discriminadas da população. 


Pergunte a Marina e, somente depois, escolha seu voto:



Por que seu partido apóia o governo do PSDB em SP?

Como se sente em ter como liderança do seu partido (PV) o filho de Sarney, Zequinha, ex-ministro de FHC?

Qual é a sua posição sobre a construção do submarino nuclear da Marinha para patrulhar as reservas de petróleo?

Por que os dep. de seu partido nunca exigiram q as 69 CPIs para investir governo do PSDB em SP fossem abertas?

Qual é sua opinião sobre a política externa do governo Lula?

Você é contra ou a favor da presença de tropas de paz do BR no Haiti?

Por que depois que você saiu do Ministerio os dados de desmatamento melhoraram?

Por que seu partido apóia o oligarca do Tocantins, Siqueira Campos (PSDB) para governador do TO?

Por que seu partido apóia o candidato do PPS/PSDB no Amazonas (Hissa Abrahao)

Por que você e seu partido estão coligados com Roseana Sarney no Maranhão?

Por que seu partido se aliou ao DEM no Rio de Janeiro?

No casos de aborto já previstos em lei, você vai desobedecer a lei ou vai deixar fazê-los?

Por que seu partido apoiou a instalação dos pedágios absurdos em SP?

Você é contra ou a favor do Plano Nacional de Direitos Humanos?

Por que os deputados de seu partido não denunciaram a destruição da educação em SP pelo PSDB?

Com relação ao Irã, você defende sanções imediatas propostas pelos EUA ou negociações para evitar a guerra?

Pq dep. de seu partido nunca exigiram q as 69 CPIs para investigar governo do PSDB em SP fossem abertas?

Você pretende mudar as leis para democratizar comunicações e imprensa ou vai deixar como está?

Você vai fazer reforma agrária pra valer ou pretende criminalizar o MST e invasões de terra?

Por que seu partido apóia a prefeitura do DEM na capital de SP, a mesma que expulsa mendigos? (via @cidcancer)

Pq os deputados de seu partido não denunciaram o crime ambiental do governo de SP nas enchents do Jd Pantanal?

Se houver segundo turno em SP Alckimin X Mercadante, quem vocês vão apoiar?

Pq você não conseguiu evitar os escândalos de corrupção/venda de madeira no seu ministério?

Pq maioria dos dep PV foram contra auditores do MTb fiscalizarem trabalho escravo?

Qual é sua opinião sobre a união civil de pessoas do mesmo sexo?

Você vai criar impostos para inibir uso de embalagens descartáveis, ou vai deixar como está?

Você vai baixar os impostos sobre automóveis, ou vai aumentá-los?

Pq deputados de seu partido em MG votaram contra o piso salarial dos professores?

Você pretende fortalecer ou enfraquecer as relações do BR com a Venezuela?

A sra. pretende continuar a política de apoio ao Etanol?

A sra. pretende proibir o plantio de transgênicos?

A sra. é contra ou a favor das pesquisas com células-tronco de embriões para cura de doenças?

A sra. é favor da discriminalização do uso da maconha ou acha melhor deixar como está?

Por que seu correligionário Gabeira prefere fazer campanha para o Serra, e não para a Sra.?

A sra. pretende enfrentar as empresas de telecomunicações para melhorar a banda larga no Brasil?

O DEM, o PP e o PSDB farão parte de sua base parlamentar no Congresso?

A sra. pretende chamar PT para compor sua base parlamentar no Congresso, já que PV não terá maioria?

A sra. pensa em mudar as normas de concessão de rádio e TV para políticos ou vai continuar tudo como está?

Por que seu partido votou contra a ampliação de recursos para saúde (CSS)?

Pq seu partido não puniu Gabeira (PV-RJ) por usar passagens do congresso para mandar a filha passear na europa?



Pq seu partido empregou assessores envolvidos na máfia dos sanguessugas?


Pq o dep Inácio Franco (PV-MG) condecorou suspeito de chacina de fiscais de trabalho escravo? 

A sra. é contra ou a favor do imposto sobre grandes fortunas?

Pq a sra. não se posiciona contra os crimes ambientais do latifúndio e do agronegócio?

Como a sra. pretende enfrentar os crimes ambientais das grandes mineradoras?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Roteiro para vídeo anti-Demotucanos


Sons de ratos: grunhidos e dentes roendo.


Abre em ratazanas roendo uma corda


Sucessivas imagens de ratazanas roendo corda, limpando as patas, brigando entre si etc.


BG Som de ratos
Sobe música



LOCUÇÃO:

FHC fez muita coisa ruim ao Brasil, a principal delas foi não controlar os radicais do PFL.

Com o apoio de FHC e de Serra, eles comiam o Brasil. Foram os mestres da corrupção e da perseguição a adversários. 

O PFL sempre foi um perigo para o Brasil, desde quando se chamava Arena e ajudou a fundar a ditadura em nosso país e, mesmo assim, esteve lado a lado com FHC, durante seus dois mandatos. Foi o PFL que inventou os mensalões e os ensinou ao PSDB e mesmo assim FHC quis o PFL do seu lado e Serra também o quer. 

Para enganar o eleitor, mudaram de nome pela quarta vez e agora gostam de ser chamados de DEM e FHC os aplaudiu.

É do DEM, antigo PFL de FHC, o primeiro governador a ir para a cadeia no Brasil  e todos  os piores títulos que a história pode conferir a um partido político.


Close num ratinho bem bonitinho.

O vice de Serra é um radical do DEM. Dá para acreditar que eles sejam democratas?

Zoom out imagens ratazanas. Lentamente, a corda forma o mapa do Brasil.

LOCUTOR:
O Serra é a ultima chance  dos radicais do DEM voltarem a roer o Brasil.

É isso que eles sabem fazer pelo nosso país.

Letreiro e Locução:
O Brasil não é mais a favor do DEM e o DEM nunca foi a favor do Brasil.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

É um petista, um comunista?

Uma negativa ao texto anterior: ACM Neto não é o candidato mais vermelho das ruas da Bahia. Há um outro colega dele que segue surfando a mesma onda vermelha: Aleluia!


E lá estão, com ele, candidatos à Presidência, ao governo do estado e um outro senhor... Não sei bem que seja ele.

Diante de imagem tão insólita, transtornei-me: serei eu um ignorante político? Terão as facções hegemônicas em meu país trocado entre si suas identidades visuais? Seria o ARENA-PFL-DEM o mais legítimo representante do comunismo no Brasil? Se assim o for, pronto, assumo minha estupidez. Porém, se não o for, o que vemos aqui?

Partindo da segunda hipótese, temos um candidato ao senado que não será eleito, apelando para o recurso que lhe pareceu mais vantajoso, no arfã de facilitar o esperneio durante o afogamento: assumir a feição do opositor, para confundir o cidadão baiano, dando-lhe a impressão de que é igual a ele, que é o preferido pela população, segundo os levantamentos de intenção de voto.

Assim como no caso de ACM Neto, cuida o candidato a Senador de reduzir a uma fina fumaça, ao longe, o legado de um finado cacique, na mão do qual ao menos dois destes rostos no cartaz foram forjados, por tapas e afagos sempre oportunistas, porém autorizados pelos próprios estapeados e afagados.

O eleitor se lembra, por sua vez, dos tapas que também levou. Tapas azuis, como azuis foram os anos depauperados que nos trouxeram até esta tal onda vermelha, objeto de um fetiche indissimulado, na qual todos querem pegar uns jacarés. Todavia, o baiano sabe não ser azul o conteúdo verdadeiro das idéias por trás destes risos um tanto forçados e, para quem os conhece de perto, bastante "aterrorizantes".

Ingenuamente, para se fazerem mais críveis nesta mensagam ignominiosa, tentaram usurpar também o vigor da indignação e a justiça do bom combate. Atrelaram, pois, ao vermelho e ao riso, o cinismo de uma artimanha sem nexo, capaz de impressionar apenas os jovens bonitos que lhes servem de seguranças. Afinal, "Justa causa" seria o motivo para que um petista ou comunista exigisse a substituição do vermelho no muro e na fotografia, a fim de que seu patrimônio simbólico fosse preservado em seus domínios políticos, para o bem da democracia brasileira.


Como não vivemos em um mundo justo, fica exposto, no bairro da Pituba, em Salvador, mais um túmulo de uma complexa ideologia, dominante por décadas na Bahia (e ainda forte em São Paulo), segundo a qual um tapinha nas costas em dias de eleições, ou um saco de farinha, um colchão, um botijão de gás e um emprego, oferecidos ali, na hora da negociação do voto, por meio de intermediários sem fé, compunham todo o conjunto de símbolos que levavam as massas a acreditarem em suas falácias.

Azul parece ser a cor da tristeza, ao menos a destes homens, hoje em dia. O povo discerne bem um muro do outro, tanto que nenhum destes da foto, ao contrário de ACM Neto, parece ter grande chance de vitória neste pleito.

Em 2010, as pessoas pedem mais que isso, porque já sabem que podem mais. As pessoas querem símbolos de liberdade e de compromisso com a equidade e a igualdade, mas símbolos honestos, reais; as pessoas pedem o que Estes senhores do cartaz não têm e que, assim cinicamente, na falta de uma cor alvissareira, servem-se de cor e da motivação por justiça alheias.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A quem ele pensa que engana

O título, caro leitor, não tem sinal de interrogação. Afirmo, categoricamente, que candidatos de direita têm se locupletado de símbolos que possam atrelar suas imagens às benesses que o Brasil tem alcançado, por meio de governos de esquerda, capitaneados por Lula. E os sinais estão por aí, nas ruas.

Vamos estudar um caso insólito. Ridículo, em verdade. Alguém poderia acreditar que, um dia, um herdeiro de Antônio Carlos Magalhães, baluarte do ARENA-PFL-DEM, pudesse se tornar tão vermelho? Pois bem, traga para perto de si umas folhinhas de hortelã, porque agora vamos ter que feder um pouco.

Não fosse  pela carinha insuspeita do candidato, poderíamos até pensar que se tratava de um legítimo componente da Onda Vermelha petista. De memória, posso garantir que vermelho não era a cor deste rapaz, quando de sua candidatura em 2006. No seu site de campanha e na sua página do twitter, o azul ainda é a cor predominante. Só que na rua, a linguagem há que ser outra, como bem demonstra esta "reportagem" em seu site, onde o vermelho toma conta.


TAPETINHO

Eu etnografei os comícios em uma cidade do interior da Bahia, durante as eleições municipais de 2008, e pude sondar que aquela realidade era a mesma de outros tantos pequenos municípios baianos.

Lula foi personagem onipresente. Os candidatos petistas formavam "tapetões" vermelhos pelas ruas destas pequenas localidades, arregimentando votos a mais de mil. Na cidade onde fiz a pesquisa, por exemplo, venceu o candidato do "tapetão", um antigo PFLista recem filiado ao PT.

Este fenômeno, como eu disse, repetiu-se em muitas outras cidades, inclusive com candidatos cujas filiações intempestivas ao PT me fizeram questionar os métodos de cooptação pelo partido de antigos aliados do carlismo. Mas, enfim, esta é parte da análise de minha dissertação de mestrado.

Por hora, cumpre apenas dizer que a cor vermelha tornou-se um arquétipo de campanhas eleitorais petistas, atrelada a palavras de ordem como, "popular", "para todos", "futuro", "paricipativo", "democrático", entre tantas outras. Assim, PT se tornou sinônimo, em todo o interior baiano, de mudança para um paradigma de gestão pública contrária àquela vinculada a facções da direita carlista.

Engraçado é lembrar que, até o final dos anos de 1990, o vermelho do PT era sinônimo de  comunismo, redicalismo etc. Esta mudança é mais um resultado do sucesso do segundo mandato de Lula, sentida fortemente já naquelas eleições municipais.

A conclusão, pois, é óbvia: a cor vermelha, na Bahia, corresponde atualmente à "garupa de Lula". Se ACM Neto corre vermelho pelas ruas baianas, ele está sentado nesta garupa. Nada justifica tamanha inversão simbólica, verdadeiro abandono de suas cores originais, em bandeiras, cartazes e adesivos.

Vejamos, agora, o que ele tem feito com os outros símbolos presumíveis de sua campanha.


Viu onde está o adesivo do candidato a Presidente que "supostamente" este candidato a Deputado Federal apoia?

Mais um detalhezinho, Vovô:



Este adesivo circula em alguns carros desde 2008. Trata-se de uma reação contra o o alegado fracasso do governo Jaques Wagner no quesito Segurança Pública. Ou seja, a mensagem completa é: "Vovô cuidava da família baiana com amor e isso nos faz a maior falta agora". Inclusive porque Wagner é de São Paulo e já foi acusado de forasteiro por Paulo Souto. Como dizem em outro adesivo similar, eles sentem muita "saudade de ACM".

Este carro estava estacionado na Praça Nsa.Senhora da Luz, bairro da Pituba, em Salvador.

Sigamos a outro ponto da cidade: Avenida Garibaldi.

 

Sim, eu sei! É uma salada de candidaturas, poluindo o horizonte. Sei também que a foto está ruim, porém justifico a sua má qualidade por ter sido tirada durante um sinal vermelho. 

A despeito disso tudo, vamos tentar responder duas perguntas que logo me vieram à mente:

Onde está, nesta foto, a imagem do candidato demotucano à presidência, "supostamente" apoiado por pelo menos quatro dos candidatos ali expostos, incluindo Paulo Souto, candidato a governador, no alto da imagem? Ela não está aqui, simplesmente.

E, finalmente, não parece que ACM Neto é, hoje, o candidato mais vermelho a circular pelas ruas da Bahia?

Durma com um barulho desse, eleitor! Ele jura que engana você! E, a julgar pela sua eminente vitória, pode ser que alguns incautos ainda caiam e se afoguem na 'onda vermelha' deste herdeiro do vovô Magalhães.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Já pensou nisso, Dilma?

A sua campanha à Presidência da República, Dilma Rousseff,  é uma das mais emocionantes que eu já participei. Voto desde 1994 para presidente e, talvez, somente as emoções de 2002 se equiparam às que eu venho sentindo nesta, de 2010.

A que se deve isso, no meu caso? Ao fato de eu haver acreditado em você, Dilma, como candidata, desde 2007 e de perceber o quanto os golpes proferidos contra você, pelos partidos e pela imprensa de oposição, vêm-se desmoronando a cada lance da disputa.

Há já alguns textos online que apontam estas falácias e eu não me ocuparei aqui em denunciá-las. Este texto é para contrariar uma máxima admitida inclusive pelos seus correligionários: venho dizer que Lula não elegerá 'Dilma', quem a elegerá será você mesma, sua história, suas idéias e, sim, seu carisma discreto e seguro.


Não vou desconsiderar a força que tem o aval de Lula para a sua eleição, porém argumento que sua indicação colará no eleitorado porque recai sobre 'Dilma'. Este nome começa a significar para o brasileiro um conjunto de habilidades e experiências indispensáveis para o país, somado a um generoso esforço feito por você para adaptar sua imagem às câmeras, aos microfones e aos palanques.

Você se reconstruiu e suas "mudanças" fizeram nascer uma cinderela do Século XXI, aos 62 anos de idade, para a qual agora confluem os holofotes, a iluminarem uma mulher que, nesta altura da vida, se redescobre bonita, dotando de mais uma informação a sua traetória de "vida plena". Acho que sua resposta ao repórter de Época sintetiza esta minha percepção: "Você também acha que eu melhorei, né?"

Sim, Dilma, você melhorou, e muito. Não apenas na aparência, obviamente, mas na assimilação de uma capacidade de tornar claras as suas idéias acerca do Brasil. E sua presença na Presidência será, como foi a de Lula, um divisor, não apenas por você ser uma mulher e estar lá, mas por ser uma mulher diferente daquelas que o nosso povo está acostumado a apreciar, além de apresentar esta incrível capacidade de superação e de reinvenção da própria história.

Você será uma presidenta com uma biografia absolutamente cinematográfica (já pensou, o filme 'Dilma, dos porões ao Palácio'?). Alçada ao Poder, não por um capricho de Lula, mas por obra daquilo que este homem admirável tem de mais poderoso, a intuição. Lula foi apenas um veículo para que a nossa história fizesse jus à sua própria, Dilma. O nosso tempo iluminará, através de você, uma faceta brasileira guerreira e imponente, altiva e lúcida - você também será um divisor de águas.

E o povo começa a perceber isso. Sua face e seu sorriso têm a franqueza que faz as pessoas quererem saber mais sobre você. E, qual não é a revelação que tem tomado o Brasil: a "mulher de Lula" tem história própria, tão grandiosa quanto a dele!

Você é uma mulher e fala como tal. Mesmo num país tão acostumado a homens rasgando suas gargantas em palanques, durante campanhas eleitorais nervosas e agressivas, as pessoas não são tolas, como pensaram os oportunistas dos jornais e telejornais: o povo tem visto que voce é você e que há muito de bom a esperar de sua atuação como Presidenta.

O primeiro da série de programas eleitorais do PT é uma representação tocante e genuinamente bela, tanto de sua biografia, quanto desta espectativa que temos hoje, seus eleitores. Não é qualquer vida que pode resultar numa peça de tamanha emotividade. Eu falo isso como quem já dirigiu uma dezena de documentários.

A não ser que se minta, não se consegue tirar lágrimas da ação de um "poste". Este filme mostra que, por um lado, você não é um "poste", como muitos de nós já sabíamos e, por outro, sua trajetória é digna de ser contada e compartilhada e será dela que resultará mais uma fase de crescimento e potencialização de nossas aventuras como brasileiros e brasileiras.

Você é a surpresa pela qual todos nós esperávamos. Devemos a Lula apenas o mérito de havê-la apresentado ao Brasil, isso ainda em 2002. Para a sua vitória, entretanto, o mérito será seu, saiba disso. Não exclusivamente, mas em grande parte. Sua vida resultou em arte e beleza neste pequeno videodocumentario, isso nos encheu de confiança, apesar dos percalços que ainda hão de lhe atravessar o caminho.

O brasileiro e a brasileira que votarem em 'Dilma', votarão em 'Dilma', ainda que por Lula. Nesse país personalista, diante de um presidente tão popular, se não fosse 'Dilma', será que votaríamos em outro/a sujeito/a, apesar de Lula? Será? Já se fez esta pergunta, candidata? Eu, sim. A minha resposta é: talvez votássemos, mas não com tantas emoções saltando-nos a pele.

Você recebe da História a homenagem que ela dispensa somente aos maiores nomes. Seu nome é 'Dilma' e este filme que tenho o prazer de apresentar a seguir o escreve em nossos imaginários com letras lindas e nos prepara para o dia em que comprarmos o ingesso para vermos uma grande atriz interpretar sua coragem, sua força, sua inteligência e sua beleza. Já pensou nisso, Dilma? Eu, já!



Meus parabéns a João Santana e toda a equipe que produziu esta obra-prima do chamado "marketing eleitoral"!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Senhora do telejornal


Em relação à série de entrevistas com os presidenciáveis do Jornal Nacional, cumpre ao bom observador, sem ignorar a performance 'programada' do publicitário William Bonner, reparar em como a jornalista Fátima Bernardes assumiu, magistralmente, a personalidade de uma Senhora colonial, ciosa, acima de tudo, em defender seu lar e seu casamento do mau julgamento público e da perda de algum bem financeiramente mensurável.

A 'Senhora', no período colonial brasileiro - e, claro, ao longo de largos anos dos séculos XIX e XX -  deve ser tomada como uma figura central para se entender os arranjos de poder que circundavam a "Casa Grande". A presunção de coadjuvância apenas prejudica a percepção, tanto de seu papel de mediadora informal de conflitos, como de seu exibicionismo consentido durante as confrarias, quase como uma afirmação estética do poderio do marido frente aos demais homens e mulheres.

Trata-se de uma tradição forjada, no Ocidente, pelas cortes germânicas, que as luso-ibéricas importaram sem a mesma sutileza. Certa promiscuidade permeava o uso que se fazia do sexo feminino, nos banquetes e nas reuniões de negócios nas 'novas aristocracias' luso-iberoamericanas. O principal papel da mulher, da Senhora no caso, nunca esteve circunscrito à cozinha, mas sim à comunicação entre os interesses domésticos e os interesses externos, conduzidos fora da casa pelo marido.

Trazer os negócios à casa fazia com que a mulher interferisse nas negociações e nos processos. Nos encontros e bailes, por exemplo, o machismo era assumido pela esposa, que caminhava entre os homens com desenvoltura, deixando para trás o perfume da casa e explicitando, a seu modo, ou ao modo que se esperava dela, quais eram as vontades do homem que, por trás, a comandava.

No século XXI, entretanto, ainda se vê algumas mulheres comportarem-se como Senhoras coloniais. Vestidas a caráter, perfumadas e garbosas, deixam-se utilizar pelos homens, cujos desejos escusos, ao final, a elas também interessam.

Em miúdos, a mulher brasileira colonial era, tal qual Fátima Bernardes o é, uma mulher tutelada, cuja performance servia para garantir apenas que fosse feita a vontade de seu dono. Os vídeos a seguir demonstram a repetição desse estado de coisas em pleno Século XXI, na pessoa da Sra. Bonner.

Observemos Fátima Bernardes.



A ordem nesta entrevista era de sabotagem. O marido veio com toda a força, iniciou o debate agressivamente, tentando, emprimeiro lugar, despesonalizar a candidata Dilma. Seguiu, insistente, o seu objetivo de equipará-la a um embuste, chegando a insunuar sê-la "tutelada" pelo presidente Lula. Era preciso imprensá-la e o marido seguia por esta via, interrompendo-a com violência.

Fátima interpelou-a aos 2'45", referindo-se a "muitos críticos" de um tal "temperamento difícil". Repare que, na resposta, Dilma voltou a se defender, visto que, com charme, Fátima quis apenas manter o centro da conversa na desqualificação da candidata. Não há lealdade de gênero nas relações que a Senhora colonial precisa manter com outras mulheres fortes, provenientes de "espaços sociais" distintos do seu. N'alguns casos, o contato era bastante áspero. A tarefa desta Senhora Bonner era justamente desqualificar Dilma em sua feminilidade.

Nos 4'02", ela voltou a usar de eufemismos, até trazer à mesa o termo "maltratar", no que Dilma entrou no âmbito doméstico, e se fez entender pela jornalista. Aos 5'12", o marido começou a tentar contradizer a candidata, para depois sair pela tangente, quando esta lhe 'deu um caldo'.

O marido seguiu reiterando grosseria, animosidade e ignorância. Soou patético, ao carregar o sotaque para se referir aos BRICs.

Fátima reapareceu nos 10'07", numa cena que ficará marcada no jornalismo brasileiro. Ela se voltou ao marido e, com candura, pediu-lhe "só um minutinho", como que lhe impedindo de colocar tudo a perder, com sua evidente e pueril irritação. As Senhoras coloniais continuam servindo muito bem a isso: aplacar os ânimos dos maridos, gerir suas emoções, feito mães.

Passando a mão esquerda pelos cabelos, aos 10'15", Fátima tomou a palavra e encaminhou-se para um precipício argumentativo de onde não conseguiu mais sair.

O casal perdeu este 'negócio' para Dilma, porém Fátima Bernardes cumpriu seu papel: impediu que a conversação descesse ao nível da raiva implacável que seu marido expôs publicamente, ao longo de todo o baile.

Sigamos a dama.



Primeiro, é necessário falar sobre Marina Silva neste evento infeliz para ela. Corajosa e digna, porém pareceu-me ingênua.

Ela figurou num papel que este casal ridiculariza: o da mucama que se envolveu em assunto de patrões. Veja que Fátima já começou interpelando a acreana, se o eleitor se convenceria de que sua candidatura "é pra valer", ou se "serve para marcar posição", esta relativa ao Meio Ambiente.

Um dos mitos sobre as classes pobres mais propalados é a associação de seus representantes políticos com políticas não-econômicas ou, por vezes, economicamente incômodas à aristocracia. Marina tinha como vice o dono da empresa Natura, sobre a qual recaem, inclusive, denúncias de sonegação de impostos. Assim, a pergunta de Fátima pode ser traduzida por: 'acha que meu marido e seus pares se deixarão intimidar por essa sua aventura?'

Aos 02'07", o marido lembrou referiu-se à solidão institucional da candidata. Cinicamente, esqueceu-se da cobrança sobre alianças que fez à Dilma Rousseff na noite anterior. Marina, coitada, não percebeu que os tons de voz e os gestos do casal eram-lhe humilhantes e a lançaram no limbo do descrédito e, nas entrelinhas, equipararam-na à escrava insurgente, à mucama rebelde, que deve ser recolocada em seu lugar de origem.

Ao questionar seu posicionamento ético no "epísódio do Mensalão", o marido quis, desta vez hipocritamente, descredenciar a convidada, amarrá-la e rebaixá-la, num ato análogo a uma surra.

Fátima permaneceu calada, durante o açoite a Marina. Não convém a uma Senhora entromenter-se no castigo de uma escrava de cristas largas.

Então a Senhora, aos 10'16", questiona sobre a falta de eficiência de Marina durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. A convidada não percebeu o embuste da Senhora que, ao lhe dar o último gole d'água deu-lhe, na verdade, uma mistura forte de vinagre e sal.

Ao longo de 12 minutos, Marina foi usada para atacar seu antigo partido político, cumpriu o script pre-estabelecido pelo casal e saiu machucada do encontro - capturada e surrada, no tronco, conforme o planejamento da Casa Grande.

Até que ocorre a confraria e a Senhora se sente à vontade.



Neste evento, a senhora utilizou de todo o seu charme caricato para encantar o convidado e, assim, tentar contaminar com seu encanto todo o público (tele)presente.

Este foi o encontro dos amigos, para selar a parceria e para congratularem-se. Lá estava a Senhora transitando lânguida, sedutora, entregue aos 'mandos' do convidado ilustre, de modo a cumprir o desejo do marido, qual seja, demonstrar todo apreço da casa por sua presença.

Não há o oferecimento do seu corpo, porém vemos claramente que ela é um presente a ele entregue, com desvelo. A mulher despersonalizada, subjugada por uma mão masculina ao seu lado, a mercê de seus interesses, parcialmente dona de sua vontade, delegada dos direitos do macho, seduz um outro macho, mantendo dele uma distância confortável porém nada discreta. Suscitar a traição somente sublinhariam a parceria firmada entre os dois homens ali presentes.

A esposa, rica, culta e, portanto, aristocrática, tal qual uma mulher colonial das classes altas, em pleno século XXI, ao vivo, para todo o Brasil. Espetáculo ignóbil!

Fátima Bernardes talvez não tenha se atinado para isso, todavia é evidente: 'o império' desta senhora já passou, sua figura feminina não condiz com as aspirações da maioria das mulheres jovens, no Brasil emancipado.

Sobre os convidados à casa dos Bonner, digo apenas: Dilma está no caminho certo, Marina precisa tratar seus complexos de inferioridade e José Serra deve parar de acreditar que a Casa Grande é maior que a praça da cidade que ele finge enxergar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O drama como jornalismo

Este texto deve iniciar-se com uma diferenciação semântica, crucial para que o seu argumento faça sentido e ganhe relevância: há que se distinguir a hipocrisia do cinismo.

Diz-se hipócrita o dissimulado, que finge possuir crenças e valores que realmente não tem; cínico, por sua vez, é aquele que não tem empatia, descarado, sem pudor frente o sentimento e razões do alheio.

Diante destas breves definições, fica-me a dúvida: o jornalismo daquela facção que chamei Mídia Direitola, composto basicamente pelas Rede Globo e Bandeirantes e pelos periódicos dos Grupos Abril, Folha e Estado de São Paulo, é cínico ou hipócrita?

Na busca de uma resposta, ainda que parcial, vou destacar o Jornal Nacional de hoje. Eu poderia comentar o editorial da Folha, o que me levaria, provavelmente, a um mesmo resultado. Porém, muito já foi dito sobre isso (exemplos: aqui e aqui).

Considerei exemplar o episódio de hoje deste seriado, chamado há tantos anos Jornal Nacional, que já tem se tornado o mais longo da televisão brasileira. Estrelado por um casal que, de vez em quando cede lugar a outro casal, como hoje, ou a uma dupla masculina multi-étnica.

Vou descrever quatro 'cenas', como se fossem de um programa ficional, tanto para vestir o meu texto com certo "cinismo", como para poder traduzir as intenções do autor do drama, por trás das "informações" de cada fala, especialmente as dos narradores remotos, na bancada, distantes do local onde ocorre a cena, e as dos narradores presenciais.


Cena 1 - Quem pegou a gravação com o relato do "assassino"?




São 4'56" de desenvolvimento da trama anunciada no capítulo anterior, apresentando o ocorrido  no fim de semana. O suspense gerou um fato novo e resta descobrir quem roubou o vídeo e o exibiu. Teria sido vendido por Ana Maria e Alessandra, ou serão elas tão vítimas quanto Eliza? Por que Marco Antônio as expulsou da corporação, estaria ele acobertando com isso o delegado Edson, verdadeiro contrabandista do arquivo videográfico? estas não são as perguntas cruciais, embora as falas dos narradores levem o público a se ocupar delas.

Veja que a história parece ter ficado intrincada, mas é um artifício corriqueiro da dramaturgia para televisão, onde o drama ocorre em meio a uma enorme rede de tipos.

Este homem falastrão e de expressão arregalada, que passa a dominar a cena e que foi o designado a mostrar o vídeo, passa a ser figura central para o desembaraço dos acontecimentos. Portanto, a frase dos narradores, "O diretor-geral, delegado Marco Antônio Monteiro, determinou que a Corregedoria Geral de Polícia apure em 48 horas a responsabilidade pelo vazamento do vídeo", é cínica e serve apenas para confundir o público. Nada mais que isso, afinal, não seria esse novo personagem a chave para se decifrar o mistério sobre quem contrabandeou o vídeo? Afinal, quem lho entregou.

Há quem saiba mais sobre a trama que os narradores: o próprio autor. Ele que oprime o personagem, por ser dele um deus. Dono das suas alegrias e angústias, esse criador é cruel e, portanto, é cínico. Os personagens dissimulados, como estes narradores e o homem falastrão, são hipócritas. Não são donos da verdade e apenas fingem que o são. Estão a serviço do onisciente narrador, que conhece o desfecho da trama.


Cena 2 - O imperador restringe ainda mais a entrada de ex-colonos incivilizados




Esta cena é ainda mais elucidativa do lugar da hipocrisia e do cinismo neste drama. Os narradores, remotos e presenciais, fingem que isto não lhes diz respeito, vestem-se com as roupas do imperador, deixam-se contaminar por sua doença. Acima deles, o cinismo do seu líder, traduzido na primeira linha (nota-se que sãos os narradores remotos os que são designados a repetirem ipsis literis a intenção do autor. Embora hipócritas por natureza, assumem o cinismo, como marionetes do dono do drama):

" O governo dos Estados Unidos anunciou que vai mandar soldados para reforçar a segurança na fronteira com o México. A decisão foi tomada depois de mais uma chacina no país vizinho provocada por traficantes de drogas."
Cinismo! Sabem que os verdadeiros assassinos são os soldados do imperador. Os colonos incivilizados morreram em nome do triunfo do império - somente este lucra com tudo isto, o enredo é sobre esta ignomínia. Este viés do cinismo expresso pelo narrador é o que ajuda a encher a trama de vigor e a esconder a presença onisciente do autor.

O narrador em cena diz: "A polícia diz que é mais um ataque resultado de uma violenta disputa entre traficantes de drogas, que se intensificou nos últimos três anos e meio, depois que o governo do México decidiu enfrentar as quadrilhas." Hipocrisia!


Mais adiante: "Nos últimos três anos, a polícia já apreendeu 75 mil armas e pôs na cadeia 78 mil pessoas. Mas os ataques frequentes das quadrilhas mostram que a guerra ao tráfico no México está longe de acabar." Hipocrisia!

E, finalmente, o clímax da cena: "Essa nova onda de assassinatos teve reflexos também nos Estados Unidos. Nesta segunda, o governo decidiu reforçar a fronteira com o México e vai enviar para lá a partir de agosto mais 1,2 mil soldados da Guarda Nacional, que vão ajudar no combate à imigração ilegal e ao tráfico de drogas." Hipocrisia! É por esta dissimulação em omitir que conhece o resultado do conflito que o autor utiliza os personagens para anunciar as cenas dos próximos capítulos, deixando o público em suas mãos, continuamente.


Cena 3 - O reaparecimento do 'miquinho'



Apenas uma cena de passagem, em que a narradora expressa, sem muita maestria, a sua hipocrisia. A frase, "A expansão das plantações de chá no país é apontada como responsável pela quase extinção desse primata", dssimula sobre a responsabilidade do opressor, sujeito oculto na história. Ela sabe de quem eram as plantações de chá, mas não quer que o público desperte seu ódio para com este antagonista, como seria natural. Faz isso, para preservar a continuidade do drama. Obedece ao cinismo do dono desta ficção. Um autor maniqueísta preserva com mais veemência a integridade de seus vilões.


Cena 4 - A floresta vazia e o caboclo ludibriado




Aí está um modelo típico de anuência cordata entre narrador e autor. Simbiose quase perfeita, tentam expressar compaixão pelos personagens do drama, com o fim de enganar o público. No fundo, os odeiam.

""Quando falamos de Amazônia ligamos à natureza. No entanto, 70% da população da Amazônia mora na cidade"", José Ademir foi vilipendiado, como o foi Pedro Pntes, quando disse: "“Eu me considero um homem da floresta. A diferença só que nos mora na cidadezinha”". Ambos foram chamados de tolos, toda a trama serve para desnudá-los, extrai-los do seu campo de verdade, torná-los heróis de fachada, tal qual a floresta retratada.

Aqui estãoos verdadeiros heróis, adornados por suas sagas fantasiosas: "Os primeiros a enfrentar essas poderosas regras da natureza foram os portugueses, a partir do século dezessete", diz o narrador, e é quando ele asfixia Pedro Pontes, José Ademir e também o prefeito, Raimundo. Extraem destes e dos demais coadjuvantes a propriedade histórica de suas ações.

E o cinismo escondido, sorrateiramente mantido pelo autor, entre as palavras do narrador presencial, este também um enganado: "A floresta começou a ser derrubada e novas cidades surgiram por outros interesses econômicos. Para as madeireiras, floresta era só matéria prima. Para a pecuária e a agricultura em larga escala, um obstáculo a ser removido da terra". Percebe a ignomínia na afirmação quase insultosa?

Cinco minutos de um destempero perigoso para o desenvolvimento do drama: posicionar-se tão ao lado da vítima, a ponto de quase obscurecer a figura a ser obliquamente enaltecida e da qual se extrairá a lição final da tragédia.

Este seriado, diga-se uma verdade sobre ele, prima por manter um 'truque' dramatúrgico singular: a verdade é como que hipnoticamente sublimada da vontade do narrador. Ele apenas narra, apaga-se, empresta-se completamente ao drama. O autor opera por ele sua sanha moralizante, neste tipo de encenação.

No caso desta cena 4, e talvez em todo o episódio, o protagonista inaugurou sua glória há cinco séculos. Tanto o autor, como os narradores, servem-lhe de escudo. O cinismo do autor está em conhecer esta verdade e dissimulá-la, sem compaixão.

A hipocrisia está em quem, por dinheiro ou fama, intercede em seu nome e embebeda o público com uma artimanha de linguagem, que o engana e o faria achar cada dia este seriado o mais inebriante, porém, dada sua repetição e obviedade - e pela falta de talento dos narradores substitutos do casal central - estas artimanhas de ludirio estão chegando ao seu ponto de falência.

Não lhe restarão outra saída, senão substituírem a ficção por um jornalismo honesto e reto.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A natureza da militância

A espontaneidade das manifestações populares, durante uma campanha eleitoral é, sem dúvida, o que há de mais bonito nesse momento da ação política. Os jingles engraçados, a troça com características do opositor, os apelidos, as charges, quando obedecem os limites do respeito à dignidade, são estímulos a novas manifestações e fonte de modismos, que empolgam e ajudam as eleições a se encaixarem na agenda cultural e no imaginário dos eleitores.

'Militância', na acepção do termo, implica disposição para demonstrar a escolha política e para colocá-la voluntariamente a serviço de uma determinada facção, durante um processo eleitoral. No Brasil, militância esteve sempre ligada aos partidos de esquerda e, mesmo quando se tornaram oposição, as facções mais à direita não lograram levar às ruas um bloco organizado de apoiadores. Nas eleições locais, pela própria natureza plebiscitária que normalmente caracteriza estes pelitos, uma certa militância se manifesta, todavia imbuída de sentimentos híbridos, e se repercute inclusive nas relações de vizinhança.

Porém, num contexto de eleições nacionais, a militância cuida de expressar gritos de luta de segmentos sociais vítimas de maior opressão e, neste quesito, é a esquerda que tem dado ao Brasil os melhores exemplos de força militante, a ponto de a ala petista, por exemplo, ser alvo de ódio de classe de grupos e indivíduos atrelados a facções mais à direita.



Nas eleições de 2010, esta força espontânea e aparentemente caótica já vem se covergindo em mensagens de apoio à candidata do PT (coligado com PMDB-PDT-PC do B-PSB-PP-PRB-PR-PSC-PTC-PTN),  Dilma Roussef, em vídeos publicados na rede e divulgados pelo conjunto de blogueiros que, também espontaneamente, formam um verdadeiro esforço conjunto para viabilizar a propagação de contra-informação em relação à mídia preponderante, que explicitamente defende o candidato do PSDB (coligado com DEM-PPS-PTB(?)), José Serra.

Por mais que tentem confirmar o contrário, o que se tem é uma inteligência coletivca operando-se voluntariamente em favor da continuidade do governo Lula, configurando no Brasil a aura de uma militância cibernética. No início deste ano, comprovaram-se as suspeitas de que a campanha de José Serra contaria, por sua vez, com um "exército", nas palavras de um dos seus coordenadores de campanha, Sr. Eduardo Graeff, composto por blogueiros contratados, que atuariam no sentido de espalhar mensagens apócrifas, acusações e ofensas sobre Dilma e seus aliados.

Ocorre que, esta força-tarefa orquestrada pelo comando da campanha serrista e regida também por "colonistas" de veículos como O Globo, Folha de São Paulo de São Paulo e Veja, não tem  conseguido muito, além de espalhar petardos preconceituosos, injuriosos e de extremo mau-gosto, o que acaba por contrariar o senso comum brasileiro, muito mais afeto ao humor ou ao protesto.



Os dois bons exemplos que eu trago promovem a associação da campanha de Dilma Roussef a segmentos de minoria muito importantes: o LGBT e o de Jovens da periferia. É muito interessante perceber que jovens homossexuais e negros ligados ao Hip Hop dispõem-se a se articularem à campanha da petista. Uma confirmação de que, ao contrário do que muitos acreditam, o PT, quando governo, repercutiu demandas destes segmentos, o que os faz se sentirem representados e dispostos a dialogarem por mais serviços a eles voltados.

Maior e mais bela que qualquer possibilidade de análise é a natureza desta militância. Espontânea, despretenciosa, respeitosa e criativa. É bonito ver o povo apoiando seu governante. Segundo Wilde, "todo governo é ruim". Sem dúvida, mas que há governos melhores que outros, isso o há! E, quando oprimidos se dispõem a defender um governante, é porque ele vem atenuando sua opressão. "Sorry Serra", mas neste ponto, pelo jeito, o governo destes é melhor que o governo dos seus. Ao menos os seus são mais raivosos e nunca fizeram a blogosfera brasileira refletir com parcimônia ou, simplesmente, rir um bocado.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A face do desrespeito aos jovens

É de se espantar o grau de espetacularização a que chegou o caso do assassinato de Eliza Samudio. Supostamente, ela foi morta por uma ação engendrada  por um ídolo do futebol nacional, o goleiro do Flamengo, Bruno. Uso a palavra 'supostamente', tão querida por eles mesmos da mídia em tempos de disse-me-disse infundado, para deixar gravada a minha sensação de desconfiança para com tudo o que vem sendo veiculado pela imprensa brasileira sobre este caso.

Foram derrubados e pisoteados todos os preceitos éticos que devem pautar a prática jornalística, assim como tem sido absolutamente questionável a atuação de um delegado mineiro, responsável pela investigação. Não vou tecer maiores comentários sobre isso, mas apenas analisar a quase histeria em torno deste caso, que já toma, a meu ver, ares de uma brutal insanidade coletiva. Uma boa amostra desta violência praticada pelos veículos de comunicação e pela polícia surge no vídeo abaixo, especificamente a 0'24'', quando uma certa imagem é sorrateiramente revelada ao Brasil:



Sim, mostraram o rosto do adolescente que participou deste crime e que o atesta por seu depoimento decisivo. E ao fazê-lo, a Rede Globo demonstra duas facetas de sua ignomínia: o desrespeito às leis e às autoridades e a sanha de fazer dinheiro com a alimentação de mórbidas curiosidades do telespectador.

O Estatuto da Criança e do Adolescente é claro ao exigir a preservação da identidade de indivíduos com menos de dezoito anos de idade, especialemte em situações que os exponham a constrangimentos ou a quaisquer outros tipos de risco à sua integridade moral e física. Ao exibir o rosto deste jovem, a Rede Globo, em horário "nobre", o lançou definitivamente ao inferno do julgamento público, o desrespeitou e o desdenhou, de modo a intensificar, dentre outros mitos infames, a teoria de que se faz necessária a redução da maioridade penal.

Todavia, pelo tipo de participação deste jovem, fica claro que ele foi levado ao ato pela influência que certamente seu primo Bruno exercia sobre ele. Um adolescente, por mais envolvido que esteja com a criminalidade, é um sujeito em formação e relativamente incapaz de prever as consequências dos seus atos. É nisso que a nossa Legislação acredita e, neste ponto, ela tem meu apoio.

Sei que é fácil a contestação desta tese pelo senso comum. Eu mesmo fui um adolescente que amadureci muito cedo, que me considerei senhor de minhas escolhas lá pelos catorze anos. Contudo, mais velho, eu percebi que o que eu tinha era informação, não discernimento. Sei que, em sua maioria, os jovens possuem informações suficientes sobre o mundo à sua volta, porém estas informações pouco lhes servem cotidianamente como parâmetro para a tomada de decisões, uma vez que, antes delas, temos as configurações familiares e as dificuldades da vida que interferem sobre os seus olhares e os fazem julgar equivocadamente os fatos que se lhes apresentam.

Em meu trabalho junto a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de Semi-liberdade, conheci dezenas de jovens. A maioria deles envolvidos com o tráfico de drogas, seja por meio da distribuição ou do furto para fins de consumo de crack. Outros envolvidos em agressões ou infrações contra a ordem pública, além de alguns homicidas. A maioria deles é, entretanto, vítima de um sistema social que os oprime e isola.

Sou categórico ao dizer: a minoria comete atos infracionais por ter o temperamento voltado à pratica de atos violentos; para a maioria dentre os que eu atendi, a violência é um elemento do discurso que viabliza sua inclusão entre os fortes e os temidos, de modo a escamotear seus sentimentos de inferioridade, que lhes foram inculcados desde a infância pela visão de sua própria miséria econômica e de sua exclusão social, e corroboradas pelos símbolos midiáticos que pululam em suas consciências fragilizadas.

A não ser que sofra de um distúrbio de personalidade, ninguém escolhe pegar numa arma e ferir ou matar alguém. Esta decisão é, via de regra, permeada por um sistema de crenças que a justifica e que faz dela uma ação inevitável. Um adolescente que pega numa arma para tal fim deve ser avaliado tendo em vista o papel que exerceram sobre ele a família e a sociedade para, somente a partir daí, se perceber o quanto sua atitude está ligada ao seu temperamento ou enquadrada numa rede obtusa de conceitos distorcidos a ele apresentados, seja por um Estado ausente, por uma sociedade discriminatória, por uma escola ineficaz, ou por meios de comunicação amorais.

Ao revelar ao Brasil o rosto desta vítima, a Rede Globo - e não apenas ela, diga-se, mas ela com maior impacto - expressa todos os elementos que perfazem sua ideologia, expressa em sua programação. Ideologia esta criada a partir do maniqueísmo que estimula a perveção e o abandono de valores como a solidariedade.

A utilização do termo "menor" para se eferir a adolescentes pobres ou infratores (pobres), em contraponto aos dolescentes dos programas de tv, é uma das marcas desta açao discriminatoria.
Ou há quem acredite que a novela "Malhação" contempla a vida de jovens como este? Adolescentes absolutamente vulneráveis à influência de primos ricos e famosos que conseguiram escapar da divisão injusta e arbitrária, entre ricos brancos e pobres pretos, que forma o cerne da "Malhação", do "Xou da Xuxa", do "BBB" e do "ti ti ti". A Rede Globo, cinicamente, ri da desgraça deste jovem que ela, junto com todo o grupo de forças que o vilipendiaram, ajudou a se estabelecer na vida dele.

As autoridades que se expõem a este circo macabro dançam a valsa imposta pela emissora dos Marinho. O promotor da Infância e da Juventude chega a ser desmentido pela repórter. Ele, infeliz por se propor a confirmar categoricamente o que lhe havia dito o jovem e ela, atendo-se aos documentos dispobibilizados pela polícia carioca, chama-o implicitamente de idiota, ao mostrar que o adolescente se contradisse no depoimento a ele.

Vê o quanto isso é grave?! Quando, meu Deus, promotores, delegados e juízes deixarão de entender a imprensa como um tal "Quarto poder" e a considerar que, para a opinião pública, assim como para a República, mais vale a lisura do resultado de seu trabalho, do que sua coadjuvação em reportagens impregnadas de tempero ideológico nocivo à necessária revisão de nossos valores, para que nossa sociedade passe cada vez mais a respeitar como tesouros, tanto "os comentários desconcertantes das criancinhas", como os velhos, que vão "perdendo a esperança".

Triste visão: a face deste pobre adolescente! Não deve haver lugar para tamanho desprezo aos Direitos da Criança e do Adolescente. E depois os radicais estão do lado de cá.

domingo, 11 de julho de 2010

A julgar pelas aparências

Fazer uma breve análise destas três capas da Revista Istoé Especial - Encontro com os Editores é  um exercício de leitura semiótica de grande qualidade para quem estuda política no Brasil.  A constatação a que eu chego é que os marketeiros, em sua maioria, não se atentaram para o quão largo é o escopo do seu trabalho e o quanto deveriam todos ser cuidadosos com os detalhes mais ínfimos. Ou não conhecem seus clientes, ou não conhecem o eleitorado que desejam cativar.

Desde já, opino que Dilma foi a que melhor se saiu na capa da Istoé e já falarei sobre suas escolhas para a foto. Vale apenas comentar que, ao que tudo indica, os retratos foram feitos por ocasião da entrevista. Os candidatos estão com as mesmas roupas com que aparecem nos vídeos, apenas a maquiagem foi retocada e a pose ensaiada de acordo com as circunstâncias. Achei justo o parâmetro para a produção da fotografia e por isso penso serem estas capas exemplos interessantes do quanto podem estar equivocados, tanto José Serra quanto Marina Silva, no que diz respeito às espectativas do eleitorado brasileiro, nestes tempos de afirmação nacional e de crescente pujança econômica.


Dilma Rousseff (PT)

Rosto: Olhar firme, resoluto, maquiagem discreta e feminina. Olha para frente, sem medos. O rosto todo exposto às luzes confirma a boa saúde. Seu semblante é simpático, com sombrancelhas que, por sua vez, confirmam seu ar de comandante, além do orgulho de ocupar esta posição. Aberta e sincera, Dilma não parece insegura ao apresentar sua face e sua mensagem.
Mãos: Unidas, a esquerda sobre a direita, envolvendo-a. A cabeça apoiada nelas, pende para a esquerda, gerando uma informação uniforme, que afirma sua tendência política. Como que uma seta se forma de um canto a outro da página, partindo do braço direito de Dilma , dirigindo-se ao É, de Istoé. A seta é ascendente.
Cores e formas: Além desta seta á esquerda, a imagem apresenta uma forma que insinua muita segurança e bases sólidas. A cabeça sorri, amparada pelo ombros que dividem a página. As mãos formam um triângulo que, ao se combinarem com a abertura do blazer, esta tbm um triângulo invertido, ajudam a dar sentido ascendente à fotografia. A cor azul e o bege do blazer acentuam a leveza do semblante da candidata. O relógio remete à gestora ciosa, cumpridora de prazos, um acessório absolutamente coerente com sua imagem pública.
Mensagem geral: De rosto renovado, Dilma diz de onde veio, aonde pretende ir e imprime empatia à sua imagem. Para o alto, avante e à esquerda. O ceu é o limite. As citações e a chamada funcionam como um complemento ideal à foto. Com ou sem interesse em protegê-la, a foto foi tão bem resolvida simbolicamente que, mesmo um letreiro que a tentasse denegrir, certamente esbarraria na força de sua imagem.

Marina Silva (PV)

Rosto: A candidata expressa fragilidade nesta foto. Posicionada de lado,voltada à direita, Marina não parece confortável. O olhar é um tanto cansado e o sorriso é por demais tênue. Eu poderia dizer que apenas o lado esquerdo de seu lábio sorri, timidamente.
Mãos: A mão esquerda parece amparar o rosto, ou sentir-lhe a temperatura. Ou ainda parece querer impedi-la de se voltar ainda mais à esquerda. Esta mão trai-a. A mão direita, oculta, parece estar a amparar a congênere. A meu ver, ocorre uma luta entre mão e rosto. Uma imagem intrigante para mim, por parecer mostrar um auto-abuso, o verdadeiro preço que ela paga a si mesma para estar ali.
Cores e formas: O verde, sim, o verde. A escolha óbvia, para localizá-la novamente no panteão político. As bordas escurecidas, no entanto, acentuam o ambiente claustrofóbico em que se meteu a candidata. Tudo leva a criar uma impressão de opresão sobre ela e o mais inusitado é perceber esta teimosia dela em se voltar à esquerda.
O seu corpo não ocupa toda a extensão da capa, parece ter sido posicionado por uma segunda pessoa. O seu semblante é o de uma pessoa febril. O casaco grosso ajuda a manter esta idéia de fragilidade e os anéis parecem mais amarrar seus dedos que adorná-los.
Mensagem Geral: Marina parece forçada a fazer o que não quer. Perdida e frágil, sua imagem a mim apenas denota o seu desconforto para com o lugar que ocupa atualmente, embora seja visível seu esforço em se forçar a ao menos aparentar o contrário.




José Serra (PSDB)

Rosto: Serra força-se para parecer o que não é: "meigo". Seu riso é sem alegria, e seu olhar é duro e perfurante. A tentativa de sorrir com simpatia lhe é negada pelo peso inerente ao olhar e a sua 'volta à esquerda' demonstra, na verdade, que ele já não se encaixa no papel. A vista cansada não o ajuda e ele sofre de um mal que nada tem a ver com a beleza (ou com a falta dela): Serra não consegue expressar sentimentos e emoções mais gratificantes. Titubeia quando pretende apenas esboçar alguma empatia.
Mãos: A mão esquerda recebe a cabeça, sem ampará-la. A mim, causa desconforto perceber que a 'estrutura' formada pelo dedão e o indicador dobrado não são suficientemente fortes para suportar o seu crânio de fisionomia tão pesada. Ademais, o dedão, em vez de apontar para a esquerda, aponta para trás, dada a posição do corpo frente ao eixo da fotografia, o que dá ao retrato um sentido que não é de modo algum agradável a este candidato de oposição.
Cores e formas: A cor escura do terno e a infeliz escolha da cor de fundo dão um ar soturno à fotografia e expressam muito mais o ambiente de um filme de horror do que a propaganda de um homem que diz haver se preparado toda a vida para presidir o país.Talvez a intenção fosse apresentar sobriedade, contudo o resultado remete a exatamente o tipo de 'castelo' em que ele não pretende, àquela altura da disputa, ver-se associado.
Mensagem Geral: Eu, no lugar de Serra, processaria toda a sua assessoria de comunicação.

A julgar por estas imagens, dá para ver claramente quem se apresenta como vencedora. Antes disso, quem se apresenta como uma candidata com força na disputa. A mim, espanta terem tantos assessores se esquecido das lições de semiótica e deixado de cuidar bem da imagem de seus clientes. Se a imagem vale alguma coisa nesta nossa "cultura do visual", somente Dilma parece ter uma equipe que, efetivamente, a ajuda a ser a Dilma que todos querem ver em frente às câmeras.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

1,5 x 10 = Cinema

De que é feito um bom filme?

Falar sobre cinema, como brasileiro, enche-me de certa angústia, porque eu não consigo aceitar a nossa situação periférica no que diz respeito à produção cinematográfica.  Com raras exceções, inclusive com a honrosa presença de um meu conterrâneo Glauber, a quem devemos os princípios pelos quais se regem os melhores projetos de cinema da atualidade, a nossa tradição cinematográfica é, ou obscurecida por um oportunismo irresponsável de cineastas amadores, que resulta na produção de filmes sem a mínima qualidade técnica ou dramatúrgica, ou no lançamento de filmes capengas, oriundos de olhares e de mãos hipnotizadas por um padrão audiovisual extremamente comprometido pelo ritmo e superficialidade televisivos.

As raras exceções, que apresentam apuro técnico e roteiro elaborado, volta e meia confundem-me como espectador, pelo apego à tragédia de cada dia dos pobres brasileiros, numa fetichização desta miséria. Muitos dos nossos filmes apelam para um tal realismo que, embora sejam bem feitos e ofereçam um bom espetáculo cinematográfico, quase podem ser classificados como panfletos direitistas e cínicos, despejados sem dó ou piedade por pequeno burgueses pseudopolitizados.

Porque não basta comprometer o filme com uma "questão social", ou com a exposição de uma tal concepção pessoal sobre "o social". Ele, o filme, há que propiciar a vivência de um drama através da tela, para que seja arte e verdadeiramente arrebate quem o assiste. O fime não precisa embrulhar estômagos, submergindo-se na percepção da 'maldade' na vida de um pobre negro cooptado pela criminalidade, nem de um travesti que enfrenta o status quo à faca, da prostituta fodida e mal paga, ou do adolescente rico sem eiras ou beiras morais que estupra, mata e está nem aí para a vida alheia. Tudo isso em cinema, diria José Louzeiro, é peripécia.

Ação dramática implica a tradução poética de uma situação que pode ou não ter relevância no embate de idéias políticas. A grande dificuldade para um roteirista é expressar uma fala sem que ela pareça um discurso, que soe corriqueira e, ainda assim, cheia de simbolismos pungentes. Caso contrário, a opção por personagens embaraçosamente tristes ou aviltantes, deixa de ser um estilo para ocupar, equivocadamente, o lugar do gênero cinematográfico.

Filmes como Patrik 1,5 despertam-me esse sentimento crítico para com o nosso cinema exatamente por me arrebatarem pela simplicidade coerente, pelo respeito à integralidade  dos personagens. Preste atenção a esta sequência (com legendas em espanhol):





Pronto, não preciso dizer a você que o filme trata da superação de preconceitos. Não preciso dizer que o casal gay está presente, não para se ouvir subliminarmente a esta presença um coro, "oh, são gays equerem adotar uma criança", ou um "oh, um jovem bandido, retroalimentando um sistema miserável e vil", em relação ao Patrik "delinquente". Não, trata-se de um filme sobre alterar um modo de se ver a vida e de sa viver. Um modo de se perceber as memórias, os traumas, as frustrações, as perdas e de ultrapassá-los. Os personagens estão ali por serem arquetípicos, complementam-se para contarem uma história singela, porem repleta de interseções com as histórias de vida dos homens e mulheres que o assistiram comigo naquela noite de sábado.

O cinema não é um divã de diretores presunçosos, nem lhes deve servir como alento a seus egos insaciáveis. Todo maniqueísmo é pernicioso à arte. Toda vaidade embota o talento. Em Patrik 1,5, cada detalhe é leal ao conjunto da trama. Não há uma tentativa de algo ou alguém parecer maior que os desejos dos personagens; desejos estes que se cruzam o tempo inteiro, fazendo os protagonistas solucionarem uma equação complicada por inúmeras variáveis, pelos embaraços provocados pela cultura que cerca a cada um de nós, personagens na tela e cidadãos presentes à sala de cinema.

Em filmes brasileiros, poucas vezes isso acontece. Poderei eu ousar dizer que nunca ocorrem? Não quero ser injusto, por isso admitirei o 'poucas vezes', como para atenuar meu ressentimento. Se pegarmos os mais recentes sucessos de bilheteria nacionais, poupadas as comédias as quais eu não vi e portanto não tenho o que falar, temos filmes sobre a bandidagem, sobre a face escura (negra,sim) do Brasil pobre e racializado, em tramas hipocritamente engendradas para que o brasileiro médio continue a acreditar que a vítima histórica da desigualdade é, na verdade, a culpada pela própria mazela.

A inversão da identidade étnica num filme-referência da produção nacional dos anos 00, "Cidade de Deus", é uma das evidências disso que digo. Baseado em uma etnografia, o diretor optou por retratar negro o personagem sanguinário que, na história real, era branco. Por que será?

Se Patrik 1,5 fosse dirigido por um destes brasileiros, eu não tenho dúvida de que haveria um antentado engendrado pelo adolescente. Ao contrário, Patrik 1,5 transfere parte desta agressividade a um dos gays que formam o casal, de modo a equalizar uma informação elementar do filme: a causa da violência tem múltiplas fontes e não está atrelada ao sujeito, mas principalmente à sua trajetória e à percepção pelo outro de sua carência. Este enfoque nos faz distribuir amor igual aos três personagens centrais e nos faz enxergar a violência que existe por trás da vida regular de um subúrbio sueco, ou de um bairro qualquer na grande Salvador, cheia de histórias de desgraças e explorações.

Assim, eu retorno à pergunta inicial: um filme deve ser feito de abnegação e simplicidade. Uma boa história é maior e mais importante do que um posicionamento subjetivamente considerado edificante - via de regra estas atitudes de soberba acabam por expressar ignomínia e preconceito, comprometendo a obra esteticamente. Uma lição que a maior parte dos deslumbrados diretores brasileiros precisam aprender, antes de quererem as glórias de serem considerados deslumbrantes.