sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O falo de Esteban

Um homem costumava andar nu pelas ruas de Barcelona. Cozinheiro, caminhava pela cidade logo de manhã e gostava de o fazer completamente nu. Se assim também cozinhava, não haveria proplemas com pelos: é tatuado e depilado, na verdade, ele andava com uma sunga pintada em suas nádegas e pelve, deixando porém, em pele, seu falo que, apesar de, obviamente, flácido, parecia firme, no auge dos seus 67 anos.

Esteban Trancón Ejarque foi proibido de circular nu, sob risco de multa, pelas ruas catalãs, por decisão da centro esquerda em aliança com a direitona locais. As pessoas se ultrajavam com a sua nudez, mas em que ela avilta? Ele fez do corpo uma obra de arte e o manteve, com saúde. O problema era o falo, que continuava sem pinturas.

A interdição do corpo em pelo de Esteban é a denúncia de um retrocesso a acontecer em nosso tempo. Por este homem, poderemos descobrir o medo que nos oprime, a ponto de alguns de nós não conseguir sequer olhar para um pênis, ainda mais para um pênis grande.

O falo de Esteban é o sonho ocidental de paraíso, idílico, anterior à própria "civilização"; sonho que perdemos.

Quem só sentiu desejo sexual pelo falo de Esteban não fui eu, foram os espanhóis da centro-esquerda junto com os da direita radical, na Cataluña. Eles povoam uma nova "facção" política transnacional.



Reacionarismo como ideologia. "Freud explica".















terça-feira, 18 de setembro de 2012

'Manif'


(Clique nas fotos para acessar as galerias)

Foi pesaroso para mim assistir àquelas centenas de milhares de pessoas ocuparem as ruas de Lisboa, em protesto contra medidas de austeridade econômica. Não digo isto para ir de encontro ao direito legítimo à manifestação popular, tampouco para dar algum azo a ações destrambelhadas da polícia - jamais! Digo tal coisa, porque pouco resultará desta marcha com mais de 100 mil pessoas nas ruas, quase 10% da população da cidade.

Portugal está por demais comprometido por acordos selados em nome da zona Euro, que depauperaram setores fundamentais de sua economia, num arranjo que reorganizou a Europa e fez com que países que já eram periféricos, como ele e a Grécia, tornassem-se ainda mais dependentes do 'centro' franco-germânico, enquanto outros, tais quais a Espanha e a Itália, passassem a comprometer divisas em nome dos interesses do Bloco e vissem, ano após ano, suas economias entrarem em colapso, em função de gestões extremas do sistema financeiro.

A esta Europa periférica, mediterrânica, morena, tão envolvida nesta retroalimentação macabra da fera que ajudou a criar, pouco parece restar, além dos socorros emergenciais pelo Fundo Monetário Internacional. Porém, estas "ajudas" fazem-na sucumbir às condicionantes baseadas em ajustes econômicos e sociais, que privilegiam os donos do capital especulativo e assaltam aos pobres nos seus direitos, especialmente os trabalhistas. São engolidos por aquela fera e ela tem nome, "Troika". Contra ela, o que se há de fazer?!

Instaurar uma guerra civil, romper compromissos, reinventar o socialismo, derrubar sucessivamente governos, fingir que há uma democracia? Tudo isso ou nada disso?

Diante de alternativas aterradoras, realmente vale encher as ruas de gritos, vale transpirar, vale simular uma catarse. Vale, acima de tudo, entregar a vida à ilusão de que se tem algum poder nas mãos. Mas, não, Portugal, sinto tanto ao lhe dizer que, como está, isso vai dar em lugar nenhum!
Soltar-se outra vez ao oceano, pequenino país, já não se cogita. Atrelarem-se as mãos latinas, neste sul europeu, quem sabe resultaria em uma saída, porém, onde estão a coragem, o gosto pela aventura de Roma, de Madrid e de Lisboa?!

Custa menos aos governos da Europa latina arrocharem seus povos, semearem-lhes o desespero e cumprirem - apesar dos povos - a vontade de credores internacionais, ao invés de recriarem o mundo de acordo com suas vontades, como o fizeram em outros tempos. Porém, nada nunca foi pacífico.

Resta pouco a fazer, então, Portugal. Sinto pena ao ver seus homens, mulheres, velhotes e crianças tomarem as ruas. Ao menos que isto lhes traga algum alívio e, se preciso for, algum respeito à juventude portuguesa que, numa madrugada próxima, acabará por tomar as armas para lutar desesperadamente por uma utopia sem nome; utopia amarrada por cordas quentes à perna bamba da mesa ibérica, sobre a qual foram escritos os tais acordos que agora lhe fazem escravo daquele monstro sem rosto, sem voz e com inúmeros braços, alimentado durante anos pela sua sanha de ter e de ter mais.

O fado é seu, Portugal.
Ir à guerra contra si mesmo é menos do que aquilo que lhe reserva o futuro, tal qual anunciado nesta marcha do nada a lugar algum.