sexta-feira, 27 de abril de 2012

O voo para fora de Araju Sepeti

O Poder Judiciário é o mais vertical, hermético, cerimonioso e frio dos Poderes. Numa sessão de julgamento, qualquer cidadão seria jogado para fora da Sala, caso não calasse a boca. No caso, tratou-se de um indígena e, 'protocolarmente', a reação do Ayres Britto encontra respaldo nos regimentos do STF.

É exatamente este protocolo rígido que veste de alguma legitimidade estas decisões dos tribunais, num Estado pós-colonial, onde a propriedade privada está desenhada em registros fajutos e os direitos (de alguns) humanos são permeados por tantas distorções que, fosse, em vez de um índio, uma mulher, um gay, ou um estudante a gritarem por direitos e o segurança negro os levaria com a mão em volta ao pescoço e os braços violentamente imobilizados, exatamente como fez com o nativo em questão.

Diante da realidade do país em que eu vivo e de sua constitucionalidade - à qual somos levados a defender e a nos submeter - o que me chama a atenção neste acontecimento são dois pontos que na reportagem não ficaram claros:

- A lei de cotas contempla os indígenas, em pé de igualdade com os negros;
- O fato de todo o debate se concentrar na seara do racismo contra afro-descendentes remete-me a outro sério problema: o nosso consistente desprezo ou indiferença em relação aos nativos, que se manifestou de forma especial neste julgamento das cotas, no qual a população indígena foi desconsiderada nas argumentações, pelas quais a necessidade de compensação foi, deliberadamente, interposta apenas em relação aos prejuízos históricos causados às populações afro-descendentes. 

O homem agredido estava certo ao gritar!

Os indígenas continuam desassistidos pela sociedade civil nacional, sofrendo do genocídio cultural e efetivo há mais de 5 séculos. 
Somos cúmplices deste genocídio. A despeito da urgência de reparação dos negros por sua história de escravidão e desigualdade, falta ao país um comportamento igual de respeito e de pesar pelas irreparáveis perdas sofridas por quem desde muito "antes" conhece e ocupa estas terras.





Há alguns dias, eu li  uma nota do blog do repórter das notas, Cláudio Humberto - fiel escudeiro de Collor presidente, jornalista que anunciou sua descida última da rampa com uma nota - em que ele tentava ligar Lula à Delta.

Eu não duvidaria se soubesse que as construtoras vêm financiando muitos candidatos de diferentes partidos, configurando esquemas de caixa 2 em cada media prefeitura, em câmaras legislativas, secretarias e ministérios. Sobre isso, tem-se a conclusão óbvia: Os processos eleitorais não podem ser tratados como 'feiras', sob risco de os Governos e Mandatos parlamentares ficarem reféns de quaisquer interesses "de mercado".

A questão subsequente é: que tipo de parceria foi firmada entre os indivíduos e instituições com o esquema criminoso? São sócios nos lucros que obtém com as negociatas e nos jogos de influência nos meios oficiais? Entram em acordo sobre pagamentos regulares de propina, verdadeiras mensalidades?

Poderá ser aberto um caminho com a CPI do Cachoeira, que passará pela tentativa de impeachment de Lula em 2005, chegará aos mensalões do PSDB em MG, SP, GO, RS e SC, sairá varrendo as duas últimas décadas, a partir de Itamar Franco.

O Brasil, pela via democrática, opta desde 2006 por alimentar o PT, jogando-o cada vez para ser levado por bancadas oligarcas ou conservadoras,. Talvez, vejamos nascer,em  uma nova esquerda, por vezes conservadora, e uma nova direita, por vezes mais liberal nos costumes, ambas mais modernas, horizontais e heterogêneas.

Repor "capital político" em partidos e políticos demasiadamente comprometidos com as forças hegemônicas de 1950 a 2000 representaria voto no atraso e na concentração de poderes econômicos e políticos nas mãos dos ratos que restaram da Antiga República Brasileira.