terça-feira, 9 de outubro de 2012

Alternância e Poder

Um argumento muito propalado por simpatizantes da Direita latinoamericana contra os auto-proclamandos "governos populares/progressistas" é relativo à necessidade de "alternância de poder". 
Entretanto, este argumento somente é válido se vier acompanhado de um 'Projeto de Poder'. 
Explico-me com dois exemplos:

1. Venezuela: Chavez venceu sem ampla maioria, não por ser um ditador, ou por não ser eficiente o processo eleitoral de seu país.
Chavez venceu na Venezuela, porque seu concorrente, ao longo dos últimos anos e meses, não conseguiu contrapor um conjunto de popostas suficientemente pragmáticas, que convencessem os venezuelanos - especialmente aqueles muito impactados pelas políticas públicas do período Chavez - de que se tratava de uma nova 'bandeira', cujos compromissos fariam jus à (re)ocupação do poder central pela direita;

2. São Paulo: Fernando Haddad, do PT, chegou ao segundo turno porque preparou um painel convincente de propostas de programas e de políticas públicas, dispostos ao longo de toda a campanha, de forma muito didática, em todos os meios de comunicação de que lançou mão. 
A despeito de seu belo porte físico, de sua relação próxima com os maiores líderes políticos brasileiros e da aproximação de partidos relacionados a setores importantes (e, sim, muitas vezes reacionários) da política paulistana, Haddad tem grandes chances de se tornar prefeito da maior cidade do país apenas por, junto com o argumento da "alternância", ter apresentado ao seu eleitor um projeto de poder, a ser debatido com seus oponentes.

Quem argumenta pela "alternância de poder" sem ter em vista o projeto político-partidário do candidato deprecia a capacidade de diálogo político, que o eleitor latinoamericano vem apresentando nos últimos anos. Quem usa de razões tão rasas atesta, pelas próprias palavras, o seu descompasso para com a História do Brasil e de toda a América Latina.

O Modo versus O Medo


A ocupação de um governo federal, estadual ou de uma prefeitura não é mais fator «determinante» para a reeleição de um candidato. Alguma influência ela exerce, como é óbvio, porém a relação do povo para com o estado mudou muito.

Tanto em 2008, ano em que etnografei uma eleição na Bahia, como agora, nesta eleição de 2012, houve muitos candidatos a reeleição "vendendo" o próprio governo. Porém o povo, quando quer mesmo "mudar", não há jeito que o convença do contrário, ainda que se trate de uma administração bem avaliada.

Se o povo, entretanto, não apresentar relevante tendência à mudança (porque mudar todo mundo quer, não é mesmo?), ele pode simplesmente testar eleitoralmente o candidato/partido. O caso do segundo turno, em Vitória da Conquista, a meu ver, é desse tipo. Há outros dois, que eu considero interessantes:

São eles, as reeleições em primeiro turno de Márcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte, e de José Fortunati (PSDB), em Porto Alegre.
Um dos candidatos venceu com alguma folga, todavia todos entenderam bem a mensagem subjacente na urna, que foi: "queremos mais eficiência!" Ambos os reeleitos, em seus discursos de congratulação, ressaltaram este "porém" e prometeram "ajustes".

Venceram pelo uso da máquina administrativa? Também, mas foram duramente avaliados. Suas vitórias significam pouco em termos de capital político, pois são extremamente vulneráveis a sobressaltos, nos próximos quatro anos.

Em outros tempos, mais de 50%  dos votos válidos já valeria alguma empáfia. Agora, não. O povo mudou. Embora cada eleição seja única, este exemplo vale também para o Chávez.

Há ainda os inúmeros casos de "erros da pesquisa", em que os resultados contrariam completamente o cenário desenhado pelos veículos de comunicação. De uns tempos para cá, o povo tem feito escolhas muito bem enredadas, o que inegavelmente significa um avanço da democracia, visto que a propaganda tem perdido terreno para discursos focados na "eficiência administrativa", ou seja, no modo como se governa. O povo se emociona e vota também por esse viés. Não cabem mais apenas o "Eu faço, ele não", ou o "eu faço melhor que ele". Foi-se a era do "político bom é o competente". O povo quer saber de acesso, humanidade e respeito. Competência são outros quinhenos.

O que é certo é que, com boa concorrência, o chavismo, assim como os psdbismos gaúcho e mineiro, poderiam ter sucumbido. Veremos agora se eles conseguirão procriar substitutos. Ganharam mais seis e, no caso dos nossos, mais quatro anos para conseguirem fazê-lo.