Encontrei um blog que busca juntar textos de diferentes veículos de comunicação online, todos representantes da Mídia Direitola. Trata-se do Arquivo de Artigos Etc, publicado pelo redundante e incógnito "Artigos".
Engana-se quem pensar que eu criei esta expressão para me referir ao jornalismo de oposição ao governo do PT. Não sou petista de carteirinha, embora já tenha prestado anos de trabalho a governos petistas (e tbm pcdobistas, pmdbistas e um demista, à época pfl'ista).
Refiro-me a um conjunto de jornalistas que acreditam no liberalismo econômico como alternativa viável de um governo, assim como sustentam em seus discursos um conjunto de crenças (sim, não são idéias apenas) baseadas nas teorizações sobre a dependência econômica dos países em desenvolvimento, na tendência de incluir a "dependência" como percalço para a emancipação político-econômica.
Embora não tenha errado no mérito, Fernando Henrique Cardoso "pecou" por não admitir uma perspectiva emancipadora aos "pobres". Com a visão de um palmo diante do nariz, FHC desmereceu nossa capacidade, no livro e no seu exercício de poder.
Por isso, não é correto dizer que FHC corrompeu suas idéias. Exatamente ao dizer tê-las negado, ele as aplicou a seu modo: entendeu - e talvez ainda entenda - o Brasil como país sem soberania, aos parâmetros do modelo de desenvolvimento euro-norteamericano (incluamos, por favor, o Canadá nisso). Justificava suas trapalhadas com auto-piedade.
Lula, por sua vez, é a personificação da Teoria da Dependência, basilar à obra de FHC. Na "era Lula", o Brasil busca superar o atraso (tendo em vista um certo discurso acerca da hegemonia), por meio do fortalecimento do Estado. Pelo fortalecimento Estatal FHC, a seu turno, dizia não ser válida a mera superação (conformação) dos problemas e mazelas, para fins de emancipação econômica. Ele supunha que pudesse haver nacionalidade sem dominação, ou melhor, sem dependência, e certamente aos europeus coube representar o resultado histórico desta modalidade de democracia horizontal.
Por não se realizar a luta entre certo tipo de proletariado e certa burguesia/hegemonia no cenário econômico, FHC não antevia a probabilidade de revolução. Parece-me, assim, que tratou Marx como trataria os Irmãos Grimm, ou mesmo Walt Disney.
A assunção de Cardoso sobre nosso atraso (intrinseca à raça latinoamericana?) o impedia de enxergar, nos filhos do Bolsa Família e do MST, os operários e campesinos descritos por Marx, ou talvez como a superação desta idéia de exército revolucionário? (Esta última, uma possibilidade mística demais para FHC).
Esse estágio de construção, para FHC é sina, para Lula é circunstância. Mais dez anos e estaremos marxistas, ou miltonsantistas? Conseguiremos vibrar nos conselhos? Até que ponto nossa excessiva erotização é impecílio para nossa aglutinação?
Certo é que a cidadania no Brasil é potencializada pela ação estatal, contudo a convivência entre os cidadãos tem sido fomentada, e parte das últimas gerações de pobres já nasceram ligadas a movimentos sociais. A diferença crucial entre Lula e FHC é a fé no Movimento.
O empréstimo ao FMI é a principal realização simbólica de Lula, que o coloca num patamar de modernidade (quase vanguarda) americana (incluamos todos nisso) tão prestigiado, que nos converte a país soberano em processo de integração cultural com os demais países, igualmente soberanos. (Sim, por vezes sou ufano-lulista).
Lula nos nacionaliza e inverte muitos paradigmas e nega outros. Torna o PSDB em relíquia e o DEM em fóssil. Por meio de sua gerência, instaura-se a Agenda do Estado pacífico, ou vem sendo programado um antro de marginais inveterados? Só o tempo no-lo dirá!
FHC, entretanto, pouco acreditava em Brasil como Nação. Em seus escritos, morrermos engalfinhados por nós mesmos parecia o cenário esperado no futuro. A sobrevivência do povo ficaria atrelada aos laços de dependência econômica para com nações ditas desenvolvidas.
Seguia uma tendência sociológica que nos via apenas como povo. Ainda sofremos desta pecha: Povo. Nós, os outros.
Lula utiliza sua brasilidade para se tornar num líder mundial quase unânime. Sua ousadia e sua sinceridade provam o quanto FHC estava deslocado em seu próprio campo teórico.
Mesmo assim, FHC parece ter aglutinado em inúmeros jornais, organizados em rede, um conjunto de seguidores. Pessoas que cinicamente se referem a si mesmas como patéticas. Negam sobreranias, democracias e, por conseguinte, negam cidadanias. Admitem com dificuldade a capacidade emancipatória do brasileiro pobre (e também do médio), e nisso escondem-se rios de preconceito.
Fingem-se cegos, empobrecem-se. Corrente enferrujada, náufragos.
A mídia direitola é o conjunto de comunicadores inexoravelmente dependentes.
Zumbis que escrevem artigos, zumbis que os publicam e zumbis que os arquivam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário