sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Eu ainda escreverei muito sobre as eleições de 2012, por isso por enquanto eu irei apenas apresentar os cinco primeiros eixos de uma breve análise:

1. População não caiu na armadilha midiática de "criminalização da política brasileira";

2. Fortalece-se minha percepção de que a população "vende" quatro anos de gestão pública. População, no entanto, ainda apreende as dinâmicas de Estado a partir d

e ações governamentais « estágio inicial de formação "nacional";

3. Há duas forças políticas perfeitamente delineadas, uma assumida pela liderança petista, outra por uma conjugação de atores que, nestas eleições, foram fortalecidos com as vitórias, em segundo turno, em Salvador com o DEM de ACM Neto, e em Manaus com o PSDB de Arthur Virgilio Neto. A terceira geração de uma 'governabilidade' que muitos, erradamente, consideraram erradicada.
A Direita perdeu, entretanto, poder, especialmente no interior do Brasil.
O PT assumiu a vice liderança entre os partidos, atrás apenas do PMDB. Isso ainda se dá pela força de Lula. Dilma desponta como "líder", Haddad é promessa, Wagner precisa ceder lugar.
Aécio não se construiu nacionalmente, porém será ele quem protagonizará o grande vexame de 2014, contra Dilma.
Eduardo Campos enxerga 2018, Haddad 2020.

4. A meu ver, foi uma eleição popular e com a participação animada de distintas militâncias. Foi, inclusive, menos virulenta que a de 2010.

5. Na Bahia, por exemplo, havia muitas razões para se retirar apoio ao PT, por conta da gestão de Jaques Wagner, considerada por muitos como truculenta e inacessível.
A despeito do inusitado de certas adesões ao ACM e da ação da mídia estadual em torno dos problemas do governo do estado junto aos funcionários, revoltaram-se os anti-petistas clássicos. Com a presença de Lula, vontade de votar no PT subia, com Wagner despencavam-se os índices de elegibilidade de Pelegrino.
Esta é a grande lição ao PT no Nordeste: os votos que vinha recebendo ainda não eram votos partidários. Há que se avaliar as campanhas locais, para se verificar uma mudança nesse quadro.

6. Por outro lado, na militância de oposição, parte dela capitaneada por intelectuais que, ainda que veladamente, apoiaram candidaturas adversárias do governo federal, expressaram-se mais rancores do que propriamente ideias, soluções ou alternativas. Afinal, não haverá povo que se dirija ao abismo para de lá se jogar. Enquanto isso, o PT segue afirmando seu "estilo" de governo. A foto de Dilma de mãos dadas a Haddad - de cara felicíssima - após a apuração é simbólica desse fenômeno.

5. Há dois imensos nichos político-eleitorais que permanecem vazios: à esquerda e à direita. PSOL e DEM irmanaram-se. "Brasil, mostra a tua cara..."
 
 
Publicado no Facebook em 01 de Novembro de 2012.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Jornal Nacional e Arte-Jornalismo

Matéria do JN no último dia 22 de novembro: Procurador-geral da República critica relatório final da CPI do Cachoeira

Script: Apresenta-se a conclusão. O ator diz uma sigla, de modo a torná-la numa obviedade ridícula. Matéria segue com os tropeços na CPI do representante daquela sigla e finaliza com o depoimento do Grand
e Promotor, o Absoluto acusador, o não julgável, sorridente em sua feição semelhante à do eminente humorista.

É quase um bom curta-metragem de ficção, mas ainda é uma 'crônica'! Meio chula, pouco sutil.

Pela coisa do 'realismo' e pelo talento dos atores, dou 3 estrelas e meia.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Alternância e Poder

Um argumento muito propalado por simpatizantes da Direita latinoamericana contra os auto-proclamandos "governos populares/progressistas" é relativo à necessidade de "alternância de poder". 
Entretanto, este argumento somente é válido se vier acompanhado de um 'Projeto de Poder'. 
Explico-me com dois exemplos:

1. Venezuela: Chavez venceu sem ampla maioria, não por ser um ditador, ou por não ser eficiente o processo eleitoral de seu país.
Chavez venceu na Venezuela, porque seu concorrente, ao longo dos últimos anos e meses, não conseguiu contrapor um conjunto de popostas suficientemente pragmáticas, que convencessem os venezuelanos - especialmente aqueles muito impactados pelas políticas públicas do período Chavez - de que se tratava de uma nova 'bandeira', cujos compromissos fariam jus à (re)ocupação do poder central pela direita;

2. São Paulo: Fernando Haddad, do PT, chegou ao segundo turno porque preparou um painel convincente de propostas de programas e de políticas públicas, dispostos ao longo de toda a campanha, de forma muito didática, em todos os meios de comunicação de que lançou mão. 
A despeito de seu belo porte físico, de sua relação próxima com os maiores líderes políticos brasileiros e da aproximação de partidos relacionados a setores importantes (e, sim, muitas vezes reacionários) da política paulistana, Haddad tem grandes chances de se tornar prefeito da maior cidade do país apenas por, junto com o argumento da "alternância", ter apresentado ao seu eleitor um projeto de poder, a ser debatido com seus oponentes.

Quem argumenta pela "alternância de poder" sem ter em vista o projeto político-partidário do candidato deprecia a capacidade de diálogo político, que o eleitor latinoamericano vem apresentando nos últimos anos. Quem usa de razões tão rasas atesta, pelas próprias palavras, o seu descompasso para com a História do Brasil e de toda a América Latina.

O Modo versus O Medo


A ocupação de um governo federal, estadual ou de uma prefeitura não é mais fator «determinante» para a reeleição de um candidato. Alguma influência ela exerce, como é óbvio, porém a relação do povo para com o estado mudou muito.

Tanto em 2008, ano em que etnografei uma eleição na Bahia, como agora, nesta eleição de 2012, houve muitos candidatos a reeleição "vendendo" o próprio governo. Porém o povo, quando quer mesmo "mudar", não há jeito que o convença do contrário, ainda que se trate de uma administração bem avaliada.

Se o povo, entretanto, não apresentar relevante tendência à mudança (porque mudar todo mundo quer, não é mesmo?), ele pode simplesmente testar eleitoralmente o candidato/partido. O caso do segundo turno, em Vitória da Conquista, a meu ver, é desse tipo. Há outros dois, que eu considero interessantes:

São eles, as reeleições em primeiro turno de Márcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte, e de José Fortunati (PSDB), em Porto Alegre.
Um dos candidatos venceu com alguma folga, todavia todos entenderam bem a mensagem subjacente na urna, que foi: "queremos mais eficiência!" Ambos os reeleitos, em seus discursos de congratulação, ressaltaram este "porém" e prometeram "ajustes".

Venceram pelo uso da máquina administrativa? Também, mas foram duramente avaliados. Suas vitórias significam pouco em termos de capital político, pois são extremamente vulneráveis a sobressaltos, nos próximos quatro anos.

Em outros tempos, mais de 50%  dos votos válidos já valeria alguma empáfia. Agora, não. O povo mudou. Embora cada eleição seja única, este exemplo vale também para o Chávez.

Há ainda os inúmeros casos de "erros da pesquisa", em que os resultados contrariam completamente o cenário desenhado pelos veículos de comunicação. De uns tempos para cá, o povo tem feito escolhas muito bem enredadas, o que inegavelmente significa um avanço da democracia, visto que a propaganda tem perdido terreno para discursos focados na "eficiência administrativa", ou seja, no modo como se governa. O povo se emociona e vota também por esse viés. Não cabem mais apenas o "Eu faço, ele não", ou o "eu faço melhor que ele". Foi-se a era do "político bom é o competente". O povo quer saber de acesso, humanidade e respeito. Competência são outros quinhenos.

O que é certo é que, com boa concorrência, o chavismo, assim como os psdbismos gaúcho e mineiro, poderiam ter sucumbido. Veremos agora se eles conseguirão procriar substitutos. Ganharam mais seis e, no caso dos nossos, mais quatro anos para conseguirem fazê-lo.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O falo de Esteban

Um homem costumava andar nu pelas ruas de Barcelona. Cozinheiro, caminhava pela cidade logo de manhã e gostava de o fazer completamente nu. Se assim também cozinhava, não haveria proplemas com pelos: é tatuado e depilado, na verdade, ele andava com uma sunga pintada em suas nádegas e pelve, deixando porém, em pele, seu falo que, apesar de, obviamente, flácido, parecia firme, no auge dos seus 67 anos.

Esteban Trancón Ejarque foi proibido de circular nu, sob risco de multa, pelas ruas catalãs, por decisão da centro esquerda em aliança com a direitona locais. As pessoas se ultrajavam com a sua nudez, mas em que ela avilta? Ele fez do corpo uma obra de arte e o manteve, com saúde. O problema era o falo, que continuava sem pinturas.

A interdição do corpo em pelo de Esteban é a denúncia de um retrocesso a acontecer em nosso tempo. Por este homem, poderemos descobrir o medo que nos oprime, a ponto de alguns de nós não conseguir sequer olhar para um pênis, ainda mais para um pênis grande.

O falo de Esteban é o sonho ocidental de paraíso, idílico, anterior à própria "civilização"; sonho que perdemos.

Quem só sentiu desejo sexual pelo falo de Esteban não fui eu, foram os espanhóis da centro-esquerda junto com os da direita radical, na Cataluña. Eles povoam uma nova "facção" política transnacional.



Reacionarismo como ideologia. "Freud explica".















terça-feira, 18 de setembro de 2012

'Manif'


(Clique nas fotos para acessar as galerias)

Foi pesaroso para mim assistir àquelas centenas de milhares de pessoas ocuparem as ruas de Lisboa, em protesto contra medidas de austeridade econômica. Não digo isto para ir de encontro ao direito legítimo à manifestação popular, tampouco para dar algum azo a ações destrambelhadas da polícia - jamais! Digo tal coisa, porque pouco resultará desta marcha com mais de 100 mil pessoas nas ruas, quase 10% da população da cidade.

Portugal está por demais comprometido por acordos selados em nome da zona Euro, que depauperaram setores fundamentais de sua economia, num arranjo que reorganizou a Europa e fez com que países que já eram periféricos, como ele e a Grécia, tornassem-se ainda mais dependentes do 'centro' franco-germânico, enquanto outros, tais quais a Espanha e a Itália, passassem a comprometer divisas em nome dos interesses do Bloco e vissem, ano após ano, suas economias entrarem em colapso, em função de gestões extremas do sistema financeiro.

A esta Europa periférica, mediterrânica, morena, tão envolvida nesta retroalimentação macabra da fera que ajudou a criar, pouco parece restar, além dos socorros emergenciais pelo Fundo Monetário Internacional. Porém, estas "ajudas" fazem-na sucumbir às condicionantes baseadas em ajustes econômicos e sociais, que privilegiam os donos do capital especulativo e assaltam aos pobres nos seus direitos, especialmente os trabalhistas. São engolidos por aquela fera e ela tem nome, "Troika". Contra ela, o que se há de fazer?!

Instaurar uma guerra civil, romper compromissos, reinventar o socialismo, derrubar sucessivamente governos, fingir que há uma democracia? Tudo isso ou nada disso?

Diante de alternativas aterradoras, realmente vale encher as ruas de gritos, vale transpirar, vale simular uma catarse. Vale, acima de tudo, entregar a vida à ilusão de que se tem algum poder nas mãos. Mas, não, Portugal, sinto tanto ao lhe dizer que, como está, isso vai dar em lugar nenhum!
Soltar-se outra vez ao oceano, pequenino país, já não se cogita. Atrelarem-se as mãos latinas, neste sul europeu, quem sabe resultaria em uma saída, porém, onde estão a coragem, o gosto pela aventura de Roma, de Madrid e de Lisboa?!

Custa menos aos governos da Europa latina arrocharem seus povos, semearem-lhes o desespero e cumprirem - apesar dos povos - a vontade de credores internacionais, ao invés de recriarem o mundo de acordo com suas vontades, como o fizeram em outros tempos. Porém, nada nunca foi pacífico.

Resta pouco a fazer, então, Portugal. Sinto pena ao ver seus homens, mulheres, velhotes e crianças tomarem as ruas. Ao menos que isto lhes traga algum alívio e, se preciso for, algum respeito à juventude portuguesa que, numa madrugada próxima, acabará por tomar as armas para lutar desesperadamente por uma utopia sem nome; utopia amarrada por cordas quentes à perna bamba da mesa ibérica, sobre a qual foram escritos os tais acordos que agora lhe fazem escravo daquele monstro sem rosto, sem voz e com inúmeros braços, alimentado durante anos pela sua sanha de ter e de ter mais.

O fado é seu, Portugal.
Ir à guerra contra si mesmo é menos do que aquilo que lhe reserva o futuro, tal qual anunciado nesta marcha do nada a lugar algum.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O voo para fora de Araju Sepeti

O Poder Judiciário é o mais vertical, hermético, cerimonioso e frio dos Poderes. Numa sessão de julgamento, qualquer cidadão seria jogado para fora da Sala, caso não calasse a boca. No caso, tratou-se de um indígena e, 'protocolarmente', a reação do Ayres Britto encontra respaldo nos regimentos do STF.

É exatamente este protocolo rígido que veste de alguma legitimidade estas decisões dos tribunais, num Estado pós-colonial, onde a propriedade privada está desenhada em registros fajutos e os direitos (de alguns) humanos são permeados por tantas distorções que, fosse, em vez de um índio, uma mulher, um gay, ou um estudante a gritarem por direitos e o segurança negro os levaria com a mão em volta ao pescoço e os braços violentamente imobilizados, exatamente como fez com o nativo em questão.

Diante da realidade do país em que eu vivo e de sua constitucionalidade - à qual somos levados a defender e a nos submeter - o que me chama a atenção neste acontecimento são dois pontos que na reportagem não ficaram claros:

- A lei de cotas contempla os indígenas, em pé de igualdade com os negros;
- O fato de todo o debate se concentrar na seara do racismo contra afro-descendentes remete-me a outro sério problema: o nosso consistente desprezo ou indiferença em relação aos nativos, que se manifestou de forma especial neste julgamento das cotas, no qual a população indígena foi desconsiderada nas argumentações, pelas quais a necessidade de compensação foi, deliberadamente, interposta apenas em relação aos prejuízos históricos causados às populações afro-descendentes. 

O homem agredido estava certo ao gritar!

Os indígenas continuam desassistidos pela sociedade civil nacional, sofrendo do genocídio cultural e efetivo há mais de 5 séculos. 
Somos cúmplices deste genocídio. A despeito da urgência de reparação dos negros por sua história de escravidão e desigualdade, falta ao país um comportamento igual de respeito e de pesar pelas irreparáveis perdas sofridas por quem desde muito "antes" conhece e ocupa estas terras.





Há alguns dias, eu li  uma nota do blog do repórter das notas, Cláudio Humberto - fiel escudeiro de Collor presidente, jornalista que anunciou sua descida última da rampa com uma nota - em que ele tentava ligar Lula à Delta.

Eu não duvidaria se soubesse que as construtoras vêm financiando muitos candidatos de diferentes partidos, configurando esquemas de caixa 2 em cada media prefeitura, em câmaras legislativas, secretarias e ministérios. Sobre isso, tem-se a conclusão óbvia: Os processos eleitorais não podem ser tratados como 'feiras', sob risco de os Governos e Mandatos parlamentares ficarem reféns de quaisquer interesses "de mercado".

A questão subsequente é: que tipo de parceria foi firmada entre os indivíduos e instituições com o esquema criminoso? São sócios nos lucros que obtém com as negociatas e nos jogos de influência nos meios oficiais? Entram em acordo sobre pagamentos regulares de propina, verdadeiras mensalidades?

Poderá ser aberto um caminho com a CPI do Cachoeira, que passará pela tentativa de impeachment de Lula em 2005, chegará aos mensalões do PSDB em MG, SP, GO, RS e SC, sairá varrendo as duas últimas décadas, a partir de Itamar Franco.

O Brasil, pela via democrática, opta desde 2006 por alimentar o PT, jogando-o cada vez para ser levado por bancadas oligarcas ou conservadoras,. Talvez, vejamos nascer,em  uma nova esquerda, por vezes conservadora, e uma nova direita, por vezes mais liberal nos costumes, ambas mais modernas, horizontais e heterogêneas.

Repor "capital político" em partidos e políticos demasiadamente comprometidos com as forças hegemônicas de 1950 a 2000 representaria voto no atraso e na concentração de poderes econômicos e políticos nas mãos dos ratos que restaram da Antiga República Brasileira.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Comentário meu ao vídeo anti-Dilma de Luiz Mott





Luiz Mott, peço licença para repetir a vc que considero extremamente exagerada e anacrônica a sua crítica. Sou gay e sou crítico de governos, detesto as concessões feitas por Dilma frente às chantagens de grupos conservadores e fundamentalistas. Contudo, busco ser lúcido, já que não poderei ser escudado por algo como um "decanato", como se isso pudesse, por si, corroborar minhas posições:



1. Assumo que vivo num país homofóbico e que estas forças obscuras mantem extremo controle de parcelas consideráveis da população;

2. Estas facções fundamentalistas, a meu ver, apenas exacerbam a tendência brasileira de tratar os temas relacionados aos gêneros e aos "costumes", em suas múltiplas dimensões, com o cinismo que alimenta e é alimentado pela nossa velha e conhecida cordialidade, esta sim, raiz de nossa natureza violenta;

‎3. não é esta a versão correta sobre o veto ao kit anti-homofobia, peço-lhe desculpa por desmenti-lo. Há muito mais do que esse maniqueísmo meio tolo de parte da militância;

4. O movimento LGBTT não deve fazer uma autocrítica sobre as bases de sua própria militância? Por que ainda não elaboramos materiais informativos suficientes para chegarem independentemente aos jovens deste país, de modo a saltarmos para além de nossa sempre festiva manifestação? Diante da tragédia cotidiana, sinceramente, por que os diferentes grupos ainda não se articularam em torno de uma agenda efetiva de denúncia e de defesa dos indivíduos que compõem o nosso segmento;
 


5. Quanto do apoio institucional com que conta os gays no Brasil nasceu antes de 2002? E mais, quanto tem sido feito pelas academias c
ientíficas, pela imprensa independente e pelos vários grupos de defesa dos DH para desmascarar os "vaores" que norteiam a ação dessas igrejas evangélicas, cada dia mais poderosas? Estamos inertes enquanto eles agem, especialmente nos governos;

6. Esta ação, algo confusa, do único parlamentar assumidamente gay que temos no Congresso impoe-se com dificuldade diante da frente conservadora. O criticismo vadio é o meior denunciador de desinteligência. É válido ser crítico da Dilma, como eu sou muitas vezes, porém é por demais valioso também que tenhamos os mesmos olhos abertos frente ao nobre deputado Jean que, hoje mesmo, soltou um "claro que ficaria com você" a um dos repórteres do lixo preconceituoso, o programa da Rede Bandeirantes, CQC, finalizando uma apresentação pessoal que mais depõe contra sua "imagem" do que o ajuda a se confirmar como parlamentar sério e criterioso;


7. E, finalmente, Luiz, seu texto e sua performance, com seu estreito riso nos lábios, só me fizeram confirmar que você, nesta causa, fortalece o real inimigo.


Não me cansarei de demonstrar aos meus pares os desvios de seus discursos, ao tempo em que exigirei que Dilma reveja sua política de alianças, pare de ceder a chantagens e passe a atuar como se espera de alguém que tem dado a vida pelo país. 


E, sim, acredito piamente que temos hoje situação melhor do que a que teríamos, caso tivessem sido eleitos José Serra ou Marina Silva, uma vez que eles certamente atuariam com muito maior complacência diante das "exigências" criminosas destes grupos fundamentalistas,, os quais existem e se fortalecem há muito mais tempo do que este período que você busca "atacar" com seu discurso que, ironicamente, tem exatos 13 minutos.

P.S.: Leviandade também é entender que o aumento dos casos de HIV e da violência contra gays no Brasil deva-se, exclusivamente, à flagrante inação ou ineficiência do atual governo frente à causa LGBTT.
 

sexta-feira, 2 de março de 2012

A 'Serrice' mais Recente, ou O Retorno do 'Jênio'

"Nós vamos fazer propostas setoriais para cada coisa." 

Este exemplo de frase inócua e desonesta, José Serra o disse ao Bóris Casoy (vídeo abaixo). Se um pesquisador, empresário, gestor ou político repetir isso publicamente, perderá muito do seu "valor de mercado". 

Quem tem Serra como economista, não precisa de companheiro/a perdulário, bonachão ou vaidoso/a.


Já que este 'jênio' não se elegerá nem para prefeito de SP (com fé em Deus e nos paulistas!), eu vou rir deste seu ato falho. 

Se tivessem conseguido elegê-lo presidente, eu estaria agora morrendo de vergonha e torpor.

Este homem é um dos maiores comediantes brasileiros. Para quem não sabe, tem vídeo de Serra errando em conta de matemática para crianças do ginásio, outro dele explicando por que a gripe era suína, outro com ele anunciando o fim do Brasil e pregando alinhamento automático com a euroamérica falida... Enfim, tem bobagem serrista para todos os gostos.






E ele continua acreditando que se trata de uma eleição nacional. Até quando SP vai patinar por conta das ambições descabidas de um homem?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O povo baiano venceu

A despeito da enorme dificuldade de se qualificar esse termo, povo, vou eu defender: o povo baiano foi o vencedor no episódio da greve da PM.

Não caiu na armadilha do terror e ainda exigiu transparência do governo de Jaques Wagner. Essa apropriação do Poder, por meio de uma pressão civilizada e silenciosa, por parte da população indignada, fez com que se reafirmasse a necessidade de se manter aberto este caminho de distanciamento do modo como se operava aquele mesmo Poder na Bahia de até pouco tempo atrás. Lembremo-nos daquela Bahia autocrata, oligarca e indiferente ao anseio popular.

Se há uma lição que ficou para mim desta greve é a de que o baiano sentiu o gosto da efetiva participação política. A seu modo, sem alarde, fez com que o governador se apresentasse, chamou-o às falas e obrigou que, tanto ele e os "manifestantes" quanto a imprensa imbecil, fossem claros em suas posições.

Ao final, o governo ganhou um voto de confiança, os terroristas se revelaram, mas que não se engane: o baiano está, com certeza, aprendendo a fazer política na democracia. Sei que em muitos locais houve assaltos, assassinatos (contando os que foram planejados e/ou executados por policiais, como o de Ribeira do Pombal). É evidente que haveria arrastões e coisas piores! Para isso servem os bandidos, e se não há polícia... Como é mesmo o ditado? Quando os gatos saem, os ratos...

Apenas quero dizer que esta comunidade (acho este o termo mais apropriado), que se criou durante a greve pela maior parcela da população baiana, negou-se a realizar as expectativas pejorativas dos terroristas, as quais não deixam de ser as expectativas do resto do país sobre nós. Não esperam de nós a 'representação do papel' de povo, mas sim de algoz ou vítima de nós mesmos. Via de regra, somos, aos olhos do Brasil, ou o indolente que morre ou o delinquente que rouba e mata. Nós, maioria de baianos, diversos como somos, neste episódio, negamos veementemente esse preconceito!

Porque éramos simplesmente um conjunto de homens, mulheres e crianças acoados entre um governo de gabinete, uma imprensa histérica e deliberada a fazer política eleitoral e um grupo de bandidos fardados, que invadiu a casa legislativa do estado, apresentou-se frente às câmeras com crianças como escudo e coordenou ações de terror em todo o estado, matando mais alguns, dentre aqueles que já são exterminados por este mesmo grupo de policiais, quando estão em serviço.

E vou além, ao dizer que foi em respeito a estes pobres, pretos, esfomeados, sem casa, viciados, lançados à própria sorte, esses entes comuns "invisíveis", mortos por policiais diariamente, foi por eles que aceitamos experimentar uma linguagem comum e nos revelarmos 'povo', mais uma vez. Para além dos interesses de classe e da insensibilidade de muitos, no estado e no país, o que eu senti durante essa greve foi um intenso exercício de civilidade e solidariedade do Povo Baiano, com quem dividi o transporte público durante os últimos dias, em Salvador, Conquista e Itabuna.

Há os méritos do governo, há os méritos dos sindicatos da categoria policial, há os acertos da policia federal, do MP e há, por outro lado, os maiores derrotados:
Os tais presunçosos terroristas, em especial o Marco Prisco - pré-candidato a vereador de Salvador, pelo PSDB;
A imprensa que manipula, que deturpa o fato para vender seu peixe invendável; e
Os políticos e militantes "da" esquerda que, cegamente, filiaram-se ao que há de mais podre e fétido entre as instituições nacionais. Parecem não conhecer a fundo o país e o estado em que vivem.

Nós, baianos, mais como comuns do que como 'cidadãos', vencemos a todos eles, fomo-lhes bem superiores, como devemos ser. Estamos de parabéns e devemos nos orgulhar do exercício que fizemos de verdadeira democracia.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Falam por Deus os intolerantes, que pregam a ignorância?

Semanas atrás, li no twitter uma postagem dando conta de que determinada pesquisa atestava que a homofobia nas igrejas se restringiria basicamente aos discursos das lideranças religiosas de caráter fundamentalista. Este tweet dizia também que os fiéis, em sua maior parte, posicionaram-se mais tolerantemente sobre a homossexualidade, uma vez que conviviam com parentes e amigos gays, lésbicas e transgêneros, o que em tese faria com que suas posturas fossem mais amorosas do que intransigentes, em relação a quem mantem relações afetivas ou sexuais com pessoas do mesmo sexo.

Como muitas das informações que nascem e se multiplicam pelo twitter, não se pode atestar sua fiabilidade. Contudo, o dado me pareceu plausível e me levou a refletir sobre esta onda de intolerância religiosa, que permeia violentamente as falas de líderes como Silas Malafaia, Edir Macedo, J. R. Soares, além do papa Bento 16.

Não busco afrontar qualquer segmento religioso, seja ele qual for. Proponho apenas uma reflexão em via dupla sobre o caráter inaceitável desta intolerância que vem marcando, em nosso meio, as posições de representantes de diferentes segmentos cristãos. O bom sinal é o de que tudo indica que esta supremacia da ignorância encontrou seu caminho de decadência.

O preconceito é um fruto podre da desinformação e precisa ser tratado, como uma infecção. No caso do preconceito por orientação sexual, uma coisa é certa: à medida em que as pessoas se dão conta de que, na Humanidade, SEMPRE HOUVE INDIVÍDUOS HOMOSSEXUAIS e que, apenas de mil anos para cá as religiões cristãs passaram a entoar discursos homofóbicos, como demonstra esta reportagem de Cynara Menezes, na Carta Capital, elas vão percebendo que esse negócio de homofobia é mais uma malvadeza da era moderna ocidental. Com certeza, quando as pessoas descobrem que HÁ HOMOSSEXUALIDADE EM PELO MENOS 500 ESPÉCIES ANIMAIS, elas incluem a natureza no assunto. E o que acontece quando descobrem que FORAM OS GAYS RESPONSÁVEIS POR GRANDES REVOLUÇÕES DA ARTE E DA CIÊNCIA? Elas param para pensar e para questionar os dogmas que lhes são apresentados e impostos por papas, padres, ministros e pastores.


Imagem: http://501pranaopegar.tumblr.com/page/4
Porém, estes líderes cumprem suas funções, se pensarmos bem. Num tempo com tantas inovações, com tanta liberdade de acesso a informações das mais variadas, é cada vez mais difícil para as religiões atuarem num terreno que, desde sempre, é o objeto de suas atividades de dominação: o terreno da vida
privada. Sim, as religiões intervém diretamente na intimidade do indivíduo, de modo a torna-lo adequado a um determinado modo de produção de riquezas. Max Weber demonstra bem como a "lógica protestante" está engendrada ao "espírito do capitalismo" e por ele vamos percebendo que a religiosidade não é gratuita, nem está desgrudada da História. Porém, o século XX começou a abrir uma janela libertária, de modo a sermos levados a questionar o valor e a função dos dogmas religiosos, num momento em que parece haver respostas para todas as questões.

Eis que chegamos a um ponto crucial do meu texto, no qual eu terei que me abrir e declarar: eu creio em Deus, ainda que não tenha religião. Mas eu sou um homem crítico e me pergunto, diariamente: por que eu creio? E a resposta a esta pergunta tão profunda me parece simples. Eu creio em Deus, porque concordo com Shakespeare: "Há mais entre o céu e a terra do que supõe a sua (minha) vã filosofia". Trocando em miúdos, não há resposta para tudo e Deus existe para dar algum sentido às nossas dúvidas, ainda que Ele não exista para elimina-las. A pretensão da religião é a de, por meio de mitos, parábolas, magia e dogmas, responder todas as questões, resolver as angústias humanas. Todavia, isso não é possível - e é nesse século XXI que esta impossibilidade se mostra mais evidente.

Então, para que serve Deus? Para nos levar para além do universo visível, para ocupar os espaços vazios que restam das grandes descobertas da ciência humana. Deus, a meu ver, não deve ser usado para contrariar fatos que a razão e a emoção comprovam ser verdadeiros e legítimos. Deus não deve servir para contrariar as conclusões científicas irrefutáveis e mesmo a natureza, sob o risco de o agente que proferir anacronias reiteradamente ser, mais cedo ou mais tarde, destituído do que lhe restar de credibilidade.

Porque, em nome de Deus, a humanidade progride e a tendência é a de que tenhamos cada vez mais mulheres e homens cientes de que a arquelogia, a antropologia, a astronomia, a física e a biotecnologia têm muito de divino. Porque divina é a criatividade humana e, por ela, tornam-se divinos, como bem nos mostrou Jesus, a tolerância, o amor, a complacência e a compaixão.

Isso me leva a crer que, vivesse conosco hoje em dia, Jesus estaria 'tuitando' suas verdades, aplaudindo boa parte dos avanços técnicos e acolhendo, de braços abertos, os seres famintos, discriminados, relegados aos cantos escuros da história e, sem sombra de dúvida, entre estes estariam os homossexuais agredidos gratuitamente, expulsos das casas e dos templos. Os fiéis tolerantes são mais afinados a Jesus do que estes seus líderes que pregam a segregação, a anulação ou a morte de seres indesejáveis, segundo suas concepções restritivas de fé. Justamente por isso, eu realmente acredito que aquela postagem do twitter esteja correta, ainda que eu não a comprove.