sexta-feira, 16 de julho de 2010

A natureza da militância

A espontaneidade das manifestações populares, durante uma campanha eleitoral é, sem dúvida, o que há de mais bonito nesse momento da ação política. Os jingles engraçados, a troça com características do opositor, os apelidos, as charges, quando obedecem os limites do respeito à dignidade, são estímulos a novas manifestações e fonte de modismos, que empolgam e ajudam as eleições a se encaixarem na agenda cultural e no imaginário dos eleitores.

'Militância', na acepção do termo, implica disposição para demonstrar a escolha política e para colocá-la voluntariamente a serviço de uma determinada facção, durante um processo eleitoral. No Brasil, militância esteve sempre ligada aos partidos de esquerda e, mesmo quando se tornaram oposição, as facções mais à direita não lograram levar às ruas um bloco organizado de apoiadores. Nas eleições locais, pela própria natureza plebiscitária que normalmente caracteriza estes pelitos, uma certa militância se manifesta, todavia imbuída de sentimentos híbridos, e se repercute inclusive nas relações de vizinhança.

Porém, num contexto de eleições nacionais, a militância cuida de expressar gritos de luta de segmentos sociais vítimas de maior opressão e, neste quesito, é a esquerda que tem dado ao Brasil os melhores exemplos de força militante, a ponto de a ala petista, por exemplo, ser alvo de ódio de classe de grupos e indivíduos atrelados a facções mais à direita.



Nas eleições de 2010, esta força espontânea e aparentemente caótica já vem se covergindo em mensagens de apoio à candidata do PT (coligado com PMDB-PDT-PC do B-PSB-PP-PRB-PR-PSC-PTC-PTN),  Dilma Roussef, em vídeos publicados na rede e divulgados pelo conjunto de blogueiros que, também espontaneamente, formam um verdadeiro esforço conjunto para viabilizar a propagação de contra-informação em relação à mídia preponderante, que explicitamente defende o candidato do PSDB (coligado com DEM-PPS-PTB(?)), José Serra.

Por mais que tentem confirmar o contrário, o que se tem é uma inteligência coletivca operando-se voluntariamente em favor da continuidade do governo Lula, configurando no Brasil a aura de uma militância cibernética. No início deste ano, comprovaram-se as suspeitas de que a campanha de José Serra contaria, por sua vez, com um "exército", nas palavras de um dos seus coordenadores de campanha, Sr. Eduardo Graeff, composto por blogueiros contratados, que atuariam no sentido de espalhar mensagens apócrifas, acusações e ofensas sobre Dilma e seus aliados.

Ocorre que, esta força-tarefa orquestrada pelo comando da campanha serrista e regida também por "colonistas" de veículos como O Globo, Folha de São Paulo de São Paulo e Veja, não tem  conseguido muito, além de espalhar petardos preconceituosos, injuriosos e de extremo mau-gosto, o que acaba por contrariar o senso comum brasileiro, muito mais afeto ao humor ou ao protesto.



Os dois bons exemplos que eu trago promovem a associação da campanha de Dilma Roussef a segmentos de minoria muito importantes: o LGBT e o de Jovens da periferia. É muito interessante perceber que jovens homossexuais e negros ligados ao Hip Hop dispõem-se a se articularem à campanha da petista. Uma confirmação de que, ao contrário do que muitos acreditam, o PT, quando governo, repercutiu demandas destes segmentos, o que os faz se sentirem representados e dispostos a dialogarem por mais serviços a eles voltados.

Maior e mais bela que qualquer possibilidade de análise é a natureza desta militância. Espontânea, despretenciosa, respeitosa e criativa. É bonito ver o povo apoiando seu governante. Segundo Wilde, "todo governo é ruim". Sem dúvida, mas que há governos melhores que outros, isso o há! E, quando oprimidos se dispõem a defender um governante, é porque ele vem atenuando sua opressão. "Sorry Serra", mas neste ponto, pelo jeito, o governo destes é melhor que o governo dos seus. Ao menos os seus são mais raivosos e nunca fizeram a blogosfera brasileira refletir com parcimônia ou, simplesmente, rir um bocado.

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