quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Falam por Deus os intolerantes, que pregam a ignorância?

Semanas atrás, li no twitter uma postagem dando conta de que determinada pesquisa atestava que a homofobia nas igrejas se restringiria basicamente aos discursos das lideranças religiosas de caráter fundamentalista. Este tweet dizia também que os fiéis, em sua maior parte, posicionaram-se mais tolerantemente sobre a homossexualidade, uma vez que conviviam com parentes e amigos gays, lésbicas e transgêneros, o que em tese faria com que suas posturas fossem mais amorosas do que intransigentes, em relação a quem mantem relações afetivas ou sexuais com pessoas do mesmo sexo.

Como muitas das informações que nascem e se multiplicam pelo twitter, não se pode atestar sua fiabilidade. Contudo, o dado me pareceu plausível e me levou a refletir sobre esta onda de intolerância religiosa, que permeia violentamente as falas de líderes como Silas Malafaia, Edir Macedo, J. R. Soares, além do papa Bento 16.

Não busco afrontar qualquer segmento religioso, seja ele qual for. Proponho apenas uma reflexão em via dupla sobre o caráter inaceitável desta intolerância que vem marcando, em nosso meio, as posições de representantes de diferentes segmentos cristãos. O bom sinal é o de que tudo indica que esta supremacia da ignorância encontrou seu caminho de decadência.

O preconceito é um fruto podre da desinformação e precisa ser tratado, como uma infecção. No caso do preconceito por orientação sexual, uma coisa é certa: à medida em que as pessoas se dão conta de que, na Humanidade, SEMPRE HOUVE INDIVÍDUOS HOMOSSEXUAIS e que, apenas de mil anos para cá as religiões cristãs passaram a entoar discursos homofóbicos, como demonstra esta reportagem de Cynara Menezes, na Carta Capital, elas vão percebendo que esse negócio de homofobia é mais uma malvadeza da era moderna ocidental. Com certeza, quando as pessoas descobrem que HÁ HOMOSSEXUALIDADE EM PELO MENOS 500 ESPÉCIES ANIMAIS, elas incluem a natureza no assunto. E o que acontece quando descobrem que FORAM OS GAYS RESPONSÁVEIS POR GRANDES REVOLUÇÕES DA ARTE E DA CIÊNCIA? Elas param para pensar e para questionar os dogmas que lhes são apresentados e impostos por papas, padres, ministros e pastores.


Imagem: http://501pranaopegar.tumblr.com/page/4
Porém, estes líderes cumprem suas funções, se pensarmos bem. Num tempo com tantas inovações, com tanta liberdade de acesso a informações das mais variadas, é cada vez mais difícil para as religiões atuarem num terreno que, desde sempre, é o objeto de suas atividades de dominação: o terreno da vida
privada. Sim, as religiões intervém diretamente na intimidade do indivíduo, de modo a torna-lo adequado a um determinado modo de produção de riquezas. Max Weber demonstra bem como a "lógica protestante" está engendrada ao "espírito do capitalismo" e por ele vamos percebendo que a religiosidade não é gratuita, nem está desgrudada da História. Porém, o século XX começou a abrir uma janela libertária, de modo a sermos levados a questionar o valor e a função dos dogmas religiosos, num momento em que parece haver respostas para todas as questões.

Eis que chegamos a um ponto crucial do meu texto, no qual eu terei que me abrir e declarar: eu creio em Deus, ainda que não tenha religião. Mas eu sou um homem crítico e me pergunto, diariamente: por que eu creio? E a resposta a esta pergunta tão profunda me parece simples. Eu creio em Deus, porque concordo com Shakespeare: "Há mais entre o céu e a terra do que supõe a sua (minha) vã filosofia". Trocando em miúdos, não há resposta para tudo e Deus existe para dar algum sentido às nossas dúvidas, ainda que Ele não exista para elimina-las. A pretensão da religião é a de, por meio de mitos, parábolas, magia e dogmas, responder todas as questões, resolver as angústias humanas. Todavia, isso não é possível - e é nesse século XXI que esta impossibilidade se mostra mais evidente.

Então, para que serve Deus? Para nos levar para além do universo visível, para ocupar os espaços vazios que restam das grandes descobertas da ciência humana. Deus, a meu ver, não deve ser usado para contrariar fatos que a razão e a emoção comprovam ser verdadeiros e legítimos. Deus não deve servir para contrariar as conclusões científicas irrefutáveis e mesmo a natureza, sob o risco de o agente que proferir anacronias reiteradamente ser, mais cedo ou mais tarde, destituído do que lhe restar de credibilidade.

Porque, em nome de Deus, a humanidade progride e a tendência é a de que tenhamos cada vez mais mulheres e homens cientes de que a arquelogia, a antropologia, a astronomia, a física e a biotecnologia têm muito de divino. Porque divina é a criatividade humana e, por ela, tornam-se divinos, como bem nos mostrou Jesus, a tolerância, o amor, a complacência e a compaixão.

Isso me leva a crer que, vivesse conosco hoje em dia, Jesus estaria 'tuitando' suas verdades, aplaudindo boa parte dos avanços técnicos e acolhendo, de braços abertos, os seres famintos, discriminados, relegados aos cantos escuros da história e, sem sombra de dúvida, entre estes estariam os homossexuais agredidos gratuitamente, expulsos das casas e dos templos. Os fiéis tolerantes são mais afinados a Jesus do que estes seus líderes que pregam a segregação, a anulação ou a morte de seres indesejáveis, segundo suas concepções restritivas de fé. Justamente por isso, eu realmente acredito que aquela postagem do twitter esteja correta, ainda que eu não a comprove.

Um comentário: