terça-feira, 30 de março de 2010

Pobres prepotentes e gatunos

Kotscho,


para variar, seu texto é muito exato e me leva a refletir.

Diante do que você escreve, eu, que sou jurista de formação, questiono se de fato deixamos de ter direito à resposta, em caso de injúria, difamação, ou imprecisão na informação publicada jornais impressos ou televisivos no Brasil.

O alardeado fim da lei de imprensa e, consequentemente, do Direito de Resposta é questionável, porque não isenta donos de veículos de comunicação das responsabilidades pela informação prestada. Assim:

- caso alguma pessoa, física ou jurídica, é injuriada, difamada ou clauniada, pode recorrer à lei penal e pode, sim, solicitar em juízo o direito de esclarecer, por meio do veículo incriminado, a sua versão do fato;

- Caso a informação passada pelo veículo seja imprecisa, falaciosa, ou mentirosa, cabe acionar o direito da população (direito fundamental, diga-se) de ser bem informada pelos veículos de imprensa, que existem para garantir acesso à verdade dos fatos, nos limites normais da parcialidade, inerentes a todo trabalho "intelectual".

Penso que essa pecha de quarto poder insuflou os egos de seus colegas. Dei aulas em curso de jornalismo e verifiquei como, desde cedo, os alunos de jornalismo são levados a acreditar que têm poder e passam a articular um discurso ao mesmo tempo arrogante e vazio, dado o currículo do curso que, na faculdade em que trabalhei, era notadamente superficial e pouco aprofundado nas questões sociológicas, históricas e mesmo deontológicas que cercam e compõem (ou ao menos deveriam compor) a prática da elaboração e publicação de notícias.

Penso que essa presunção de influência foi o maior tiro no pé que os profissionais desta categoria deram.

Primeiro, porque são, em grande maioria, meros assalariados e a sua atuação é permeada pelas imposições comuns à relação capitalista entre patrões e empragados. A frustração financeira faz, quem sabe, o jornalista pensar: "que falta me fez um estudo melhor do marxismo" (risos)

Em segundo lugar, esta prepotência lhe retira o que consubstancia sua profissão: a credibilidade. Uma informação desligada dos reais acontecimentos é percebida como mentira e, mesmo justificada pelo público tendo em vista os limites ideológicos que cada veículo se impõe (quando estão esclarecidos em seu editorial), este deslocamento do real pelo jornalista é, para mim, o que tem tornado a formação superior nesta área pouco relevante.

Tanto o é que, em períodos de alguma controvérsia, como o eleitoral, bons profissionais gastam muito tempo a escrever sobre a imprensa e a comentar as múltiplas faces dos acontecimentos, como que preenchendo uma lacuna deixada pelos seus colegas e os respectivos patrões.

Uma pena... E ao mesmo tempo um sinal de que, no fim das contas, a vítima do engodo foi o próprio jornalista, já que, de burro o povo tem nada. Nada sinaliza melhor este dado do que a presença de um publicitário como âncora do mais assistido telejornal do país, tornado, inclusive, o segundo mais confiável entre tantos outros notaveis. Vê que um gatuno usurpou de uma prerrogativa da sua profissão, Kotscho, e a leva às últimas consequências, em detrimento de sua categoria?

Forte abraço.


Comentário ao artigo: Papa, Lula, Serra e o poder da imprensa, no blog do jornalista Ricardo Kotscho.

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