Há um ódio ao Brasil que se expressa por meio de verborragias metralhadas a esmo por pessoas com alguma 'bagagem' intelectual, conhecedoras, ao menos remotamente, da realidades de países estrangeiros; pessoas interessadas em produções artísticas de outras partes do mundo, especialmente a estadunidense e a européia.
São brasileiros e brasileiras que repercutem em seus comentários preconceituosos enganosas noções de identidade 'européia', sempre a imaginarem que "lá" tudo funciona, tudo brilha, tudo está em perfeita ordem. "Lá", para eles, não viveria este povinho, não haveria esta sujeira, esta corrupção, esta realidade. Diante de uma qualquer adversidade midiatizada, repetem a máxima, 'vou-me embora desse fim de mundo'.
Este ódio pelo Brasil é tanto mais forte quanto maior for a articulação do seu propalador com a imprensa cultural. Um teatrólogo brasileiro que tenha conseguido, em algum momento dos anos de 1990, fazer fama entre circuitos 'alternativos' com sua obra experimental à moda novaiorquina, por exemplo, torna-se quase imediatamente um detrator feroz do seu país de origem. Nem precisa ter ficado rico, ou ganhado reputação entre outros circuitos artísticos, além do paulista ou do carioca, para que de sua boca sejam cuspidas ofensas generalizantes dirigidas a todo o 'resto' do Brasil.
Se ele conseguiu fazer algum estágio 'no exterior', então, nossa!, o Brasil passa a ser polo de comparações as mais esdrúxulas, como se não houvesse um passado, como se as mãos com anéis que o tal teatrólogo beija e afaga não fossem as mesmas mãos que açoitaram o avô e o pai daquele jovem pardo que, ao passar por ele, chamou-lhe a atenção pelo volume entre as pernas, afinal, ser bissexual é o futuro... 'lá'. (Mal sabe ele que aquele jovem pardo conhece tão bem homens pseudo-liberais ensebados como o cinquentenário e esquecido artista que o violentou com o olhar lascivo.)
Trata-se de um ódio míope e esquizofrênico, que recai sobre os homens e mulheres que não se encaixam em seu estreito modelo de perfeição. Este ódio descamba para o sexismo, a homofobia e o racismo, automaticamente. Isto, porque a saia curta da brasileira torna-a num objeto sexual e dá a ele o direito de enfiar a mão nas suas partes íntimas, enquanto a saia curta da jovem francesa é sinal de sua liberdade e emancipação. Percebeu a lógica torta do sujeito? É tão simples quanto isso e por isso mesmo tão ridícula!
O que o homem em questão não percebe é que 'lá' não há quem se importe com a sua 'cópia' teatral, mas dá um saco de euros pelo colorido sofisticado da arte brasileira feita de rendas e chitas, tambores, sanfonas e agogôs. Este pobre coitado chafurda numa lama fétida de inveja e se defende como pode, com a sua ousadia discriminatória e auto-enganadora, com aquela retórica detestável e desrespeitosa que faz a podridão de sua mente e de suas emoções ser correspondente ao quadro de feiura em que ele representa o Brasil, este recanto de gente que ama odiá-lo, iludida com uma imagem de 'paraíso no estrangeiro' que não existe.
Gente de pensamento curto, como a obra do teatrólogo nojento, e de sentimento defasado, como o Brasil que ele descreveu numa entrevista, "paisinho de 4º mundo, Corsa que quer ser Mercedes". Gente triste, 'intelectualoidezinhos' melecas de um qualquer submundo: Jac Motors que querem ser Bugattis.
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