quinta-feira, 17 de junho de 2010
CALA BOCA GALVAO
Fico imaginando o estarrecimento dos donos das grandes redes midiáticas brasileiras (ou mesmo de outros países) ao perceberem que seu "poder" já vai pelo ralo.
O fenômeno CALA BOCA GALVAO, que nasceu no twitter e atingiu jornais e televisões em todo o planeta, é a expressão do uso coletivo e inteligente de uma ferramenta digital para obtenção de domínio sobre a informação. Um verdadeiro descredenciamento daqueles que são pagos, ou pagam, para se fazerem ouvir incidiosamente, como se fossem os únicos detentores de um saber e dos quais nós, os espectadores, nos tornamos verdadeiros escravos.
Como não há sapiência nas falas de gente como esse Galvão Bueno, resta-nos responder à sua arrogância com uma ousadia bem maior que a que o seu salário lhe permite conquistar. Ele é apenas um funcionário da Rede Globo de televisão e, portanto, mais dominado que qualquer um dos que, para terem paz para vibrarem ao assistirem um espetáculo esportivo esperado por quatro anos, sem serem importunados em sua privacidade por uma voz renitente e enfadonha que diz nada sobre tudo, gritaram, alto e claramente: CALA BOCA GALVÃO!
Se de início, a mensgem foi dirigida ao tal locutor, oportunamente, o Galvão foi se tornando cada vez mais arquetípico. Na expresão que rapidamente se espalhou pela internet, ele passou a concentrar significados múltiplos e complementares, para além das piadas com a Lady Gaga ou memso com os pássaros, embora esta imagem corresponda à sua fisionomia. Galvão, no twitter, passou a ser um símbolo que abarcasse toda uma comunidade de "jornalistas", "artistas" e "intelectuais" que serve obstinadamente aos interesses daqueles que os dominam pelo salário.
Galvão passou a ser também a ignomínia engravatada de um Arnaldo Jabor, a canastrice de Williams Waacks, a cara de pau do casal telejornal Nacional, a frivolidade do casal Huck, a empáfia grosseira e também verborrágica de Faustos Silvas e Gugus, a acintosa hipocrisia de Reginas Duartes, o cabelo alisado de Glórias Marias, além da indissimulada parcialidade de uma ficção que mais parece panfleto ideológico deste neoliberalismo cínico, que continua a endeusar caucasianos pequenoburgueses, como se "retratasse" um país qualquer, que não o Brasil.
Este CALA BOCA é o sinal de insubserviência, de um autêntico ato de desobediência. É quase a realização de um sonho Habermmaniano, uma sublevação inesperada e ofensiva daquele mesmo "povo" sempre tão "bem mandado", que comprava os mesmos produtos, nas horas marcadas por eles e pelos donos deles. Uma ação improvisada, porém deliberada por um desejo antigo de conseguir falar mais alto que esta gente. A Copa do Mundo é um desses momentos em que as vontades individuais se tornam imbuídas de sentimentos semelhantes, que levam a ações quase orquestradas. Eles pensavam que sua "ação pedagógica" pudesse ainda ser maior que a potencialidade nacional, ou que esta não se encaixaria jamais numa categoria política? Foi-se o tempo dos currais!
Devem estar atordoados, sem saber por onde começarem uma reação eficaz. Como bem lembrou Tsavvko, resta-lhes a tentativa de restrição de nossa liberdade online para fazerem valer seus interesses escusos. Contudo, eu duvido muitíssimo que venham a conseguir 'calar as bocas' de todos esses novos interlocutores dos meios de comunicação de massa.
Há mais a realizarmos do que ouvirmos o que eles querem dizer. E, embora o tráfego de informações na internet já seja bastante controlado (como já nos avisou minha querida M.I.A.), não há como frear uma ação criativa emanada por um cidadão conectado e, caso esta manifestação seja adotada como fala coletiva por milhões de outros cidadãos, haverá muito pouco que uma política privativa possa fazer.
Além do que, pensemos, já não se fazem mais Hommers Simpsons como antigamente, tampouco os Williams Bonners se mantiveram tão interessantes e sedutores, o que é ainda mais relevante. Assim, já não está tão numeroso o exército dos que se dispoem a repetir cegamente o que ouvem na televisão e o que leem nos jornais. A crise da profissão de jornalista é apenas reflexo desta atual indignação para com os notíciários e mesmo para com os textos subjacentes aos roteiros de novelas, filmes e minisséries. Eles não queriam, ou sequer apostavam nesta possibilidade, porém ei-la viva: já não somos mais tão domináveis.
Portanto, esse CALA BOCA GALVAO é um ACORDA BRASIL, ou melhor, 'SAIAM FORA' MARINHOS, BISPOS MACEDOS, SAADS, CIVITAS! Esse CALA BOCA GALVAO - e todo o humor que o gerou e que dele foi gerado - é a expressão ideal da tal "inteligência coletiva", legítima expresão da cidadania, realização da democracia, propiciada pelo surgimento de um meio fluidio e ingovernável, como o é a internet. Sejamo-lhe gratos pelo início de nossa emancipação!
Eles devem estar embasbacados, sem dúvida. E já vinham ficando há anos, quando começaram a perder espaço para outras empresas, igualmente detestáveis. Desta vez, no entanto, passaram a sentir o golpe definitivo que os fará ter que ouvir as vozes dos que estavam fora. O golpe que os fará rever seus princípios e adotar atitude menos soberba. Este golpe se manifesta: na dificuldade de moldar os comportamentos sociais, mesmo com ofensivas como os BBBs da vida; na falência das telenovelas; no descrédito de "apresentadores" e "comentaristas"; e na contínua rejeição das mentiras interpostas por seus veículos de notícia. É o fim! Perderam, playboys!
E a resposta virá reiteradamente, na forma de negações aos seus ditames, como se vê com a enorme e estável popularidade de Lula, contradizendo toda uma campanha articulada de difamação e descredibilização. Certamente, ver-se-á também esta negação com a vitória de Dilma e com a perda de credibilidade de quem quer que se deixe envolver mais de perto em suas artimanhas contestáveis. E eles terão que 'calar suas bocas' e passar a nos perguntar o que queremos que eles digam, sob o risco de perderem completamente nossa atenção.
Para além de termos figurado autores da piada mais bem feita e genuína do Século XXI, uma realização coletiva de feito similar ao consagrado por Orson Welles, apesar deste nosso humor ter-nos feito heróis de uma nova era, orgulha-me o episódio CALA BOCA GALVAO pelo que ele tem de subversivo e simbólico para com nossa própria cultura.
O acerto de nossa parte foi tão eloquente, que faixas com a expressão CALA BOCA GALVAO têm invadido estádios sulafricanos, durante os jogos da Copa. No primeiro jogo, no vídeo acima, aquela faixa desapareceu em menos de dez minutos. Não sei se os nossos "comunicadores" e seus advogados foram poderosos o suficiente para obrigarem a sua retirada, prefiro crer que, dado o seu tamanho, ela atrapalhava a emissão das subliminaridades publicitárias em torno do campo de futebol. Não importa! Fizemo-nos ler em toda a rede mundial de computadores e temos invadido o território inimigo (a velha e boa telinha) para lançarmo-lhes novas bombas!
Brasileiros, fomos terroristas digitais numa guerra justa! Estou orguhoso de nós mesmos. Soubemos lutar e rimos enquanto o fazíamos. Demos mais uma lição ao mundo porém, antes, ensinamos a nós mesmos que, sim, podemos e vamos tornar diferentes as coisas de como elas estão.
Em alto e bom som, repitamos, enquanto for preciso: CALA BOCA GALVAO!
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Exclenete post, tivesse saído antes teria ido pro GV com absoluta certeza! E obrigado pela citação!=)
ResponderExcluirMAs eu não sei se compartilho da profundidade de sua alegria!=) Eu não creio que 99% dos quese engajaram no CALA BOCA GALVAO efetivamente estavam indo contra a Globo mais do que só contra o Galvão. Existe a parcela politizada, mas creio ínfima.
Cabe, porém, a nós puxar o gancho. Mas aí é outro assunto!