sábado, 3 de abril de 2010

Como construir uma candidatura em 10 passos

1 - Eleve o tom de voz, sempre que se referir à candidata da situação. Apresente-a como feia, carrancuda, grosseira, mentirosa, terrorista, tagarela e vazia. Contradiga-se à vontade, minta sobre ela, quando acabarem os argumentos;

2 - Até o último dia de campanha, forje perquisas eleitorais, que mostrem sua vitória iminente. Uma vez que você tem a serviço do seu partido pelo menos dois institutos, fica fácil desmentir os que derem o resultado verdadeiro. Não meça palavras, espinafre, inclusive, jornalistas e âncoras de telejornais que ousarem apresentar resultados de institutos não-alinhados. Mostre que sob sua lei só permanece quem rezar de acordo com a sua cartilha;

3 - Use todos os instrumentos disponíveis para criticar as estratégias de marketing político aplicadas pela candidata oposta. Preferencialemente, caso ela tenha um bom cabo eleitoral ao seu lado, procure denegri-lo também. Porém, cuidado ao atacar o tal cabo eleitoral: normalmente, bons cabos eleitorais são sujeitos de prestígio e podem facilmente convencer o eleitorado de que sua tese (não a dele, a sua) é fajuta. E nós sabemos que sua tese (não a dele) é fajuta;

4 - Ao escolher um candidato para representar seu partido, que está na oposição ao atual governo, opte por aquele que estiver melhor nas pesquisas. Seja imediatista, não haverá tempo a perder. Ajude-o a ser rígido, cínico e a encobrir os erros dos seus aliados, ou até mesmo os próprios aliados, quando estes lhe arrancarem uma carrada de votos, todas as vezes que abrirem a boca;

5 - Junte seus amigos jornalistas, donos de concessões de rádio e tv, colunistas e blogueiros histéricos e bipolares e realize um Fórum em que se ameace o leitor com a garantia de parcialidade. Seja claro, avise que você, por meio deles, será obtuso. Depois, oriente a estes mesmos jornalistas a acusarem o tal cabo eleitoral e a sua candidata de autoritários. Sim, esqueça tudo o que você aprendeu sobre autocracia e democracia. Caberá a você e a seu grupo levar o país à Revolução Burguesa, que você se ressente de não haver presenciado na Inglaterra do "Bill of Rights";

6 - Mostre que rico é rico porque merece e porque pode e que pobre obedece porque tem juízo. Mais que tudo, mostre que o rico é você e os seus. Caso estes não o sejam, dê-lhes charutos, chapéus ou lhes viabilizem a produção de (mais um) filme hermético, feito para os ricos instruídos. Uma vez que entre os seus ricos não há muitos instruídos, convém obrigá-los a assistirem à produção e elogiá-la. Faça tudo isso antes das eleições. Se o cineasta em questão entrar em surto, amortize-o com ansiolíticos e entregue a pós produção do longa a outro camarada. Imprescindível é ter fatos culturais aos quais atrelar o nome do seu candidato. Dê-lhe sempre motivos para sorrir e, nos sites, corrija suas enormes gengivas e sua expressão facial, que via de regra lhe dão um ar vampiresco assustador. Se eles, do outro lado, até parecem bonitos nas fotos, não há nada que um photoshop básico não possa fazer pelo seu homem. Além do corretor digital, nada como elogios em colunas intermináveis nos seus jornais para fazê-lo parcer minimamente simpático;

7 - Pague jornalistas pobres (redundantemente) e outros desocupados, esconda-os em perfis falsos e os faça jorrar ofensas em blogs e demais meios de comunicação online;

8 - Diante de eventuais crises institucionais ou dos partidos aliados, dê um jeito de amordaçar os envolvidos, antes que eles envolvam você e o seu candidato em lama pútrida. Finja recriminá-los, expulsá-los do grupo e depois alardeie que você não macumuna com falcatruas. Garanta que governadores presos, sócios foragidos, promotores e juízes comprados falem a sua verdade e somente a sua verdade. E então, mostre a todos os eleitores que a justiça está do seu lado e propale frases feitas sobre ética e moralidade e que estas sejam repetidas em coro, eu disse em coro, por todos os que circundarem o seu escolhido. Bata neles se errarem algum verso do jogral;

9 - Dissemine o MEDO entre os brasileiros. Como, se não houver motivos para alarde entre o povão? Ora bolas, use a mídia aliada para espalhar boatos infundados e para assassinar reputações. Faça isso sem pensar: depois da coisa fedida no ventilador, já era. Ou, ao menos, já seria - é pagar para ver. E você paga, ah se paga, inclusive direito de resposta;

10 - Por último, mas não menos importante: os seus aliados grileiros, escravocratas, viúvos e viúvas da ditadura, ladrões, enfim, toda essa gente de moral ilibada (aqui prá nós) que o ladeia e que ainda circula entre os homens e mulheres livres do Brasil, pinte-os de bons moços e moças, de ambientalistas e de, como dizer?, pinte-os de cor-de-rosa, que é a cor do amor etéreo. Se colar, chame um deles para vice na chapa (sim, chame-a, esta mesmo que você está pensando ;-). Se não rolar, porque sabemos que esta tal está mais suja que o pau do galinheiro da roça produtiva que ela mantém, a rédea curta diga-se, no Centro-Oeste, bom, aí, espere até junho, vá chantageando um seu irmão de partido para que aceite a sua companhia ou, se nada der certo até o último minuto, arranque uma coelha insossa da cartola e mande ver. Mande ver, não, bote pocando, como dizemos aqui na Bahia. Aliás, temos um duquinho parlapatão e um capataz com larga experiência em "atos" de campanha, ambos habilitadíssimos a estarem ao lado do seu candidato nesta empreitada.

Feito isso, sanadas as questões e desatados os nós, é correr para a luta.
Como você vê, não lhe faltam alternativas, basta usar um pouco de criatividade.
Ficam aí minhas sugestões e que São Serapião os acompanhe. Ao menos ele... Assim seja.

2 comentários:

  1. Excelente contribuição, Murilo! Parabéns pelo texto e vamo que vamo pra cima dessa corja!!! Abs!

    ResponderExcluir
  2. depois desta,teremos que canonizar a Dilma.

    ResponderExcluir