Eu descobri por que a mídia direitola tem tanto medo do filme sobre Lula: ela conhece bem o valor de um drama.
Quando comunicados como ficção, os dados, verídicos ou imaginados, passam a plainar sobre as emoções e toda reação a eles passa a ser imediata e marcante.
Há que se estabelecer um trauma porterior no indivíduo em relação à realidade daquela informação, para que ele se desvencilhe de uma certeza a que foi convencido pela comunicação dramática. Isto é, para se descaracterizar a conclusão de um drama, há que contradize-lo veementemente, como ocorre, por exemplo, com o decurso do tempo e os filmes de ficção científica ou com a História, frente ao jornalismo mentiroso ou especulativo.
A despeito das variações da notícia em relação ao fato retratado, próprias da parcialidade intrínseca às criações humanas, não se pode presumir que o jornalismo deva ultrapassar o fato. A mídia direitola tem testado os limites da invenção ficcional aplicada à História e portanto treme nas bases quando vê surgir um filme sobre o Lula com caráter documental. O que nenhuma novelas tem conseguido mostrar, o filme sobre Lula o fará desde a primeira cena.
Era este um dos males que as elites outrora hegemônicas temiam em relação a si mesmas: o contraste do público com as suas origens. Ao expor sua versão de Brasil, Lula desmascara o granfino rico, branco, letrado, frio oportunista, que lhe surgia sazonalmente em busca de votos, a inaugurar bicas, ou a distribuir promessas.
E ainda relativiza, no campo das representações, o poder da televisão face a outros meios e veículos de comunicação, especialmente o cinema.
Assim, na contramão do jornalismo imaginado, a tecnologia revela à realidade um herói vivo pela ficção e, com este herói, esse filme plantará um Mito na História - e vice versa - e os deixará bastante poderosos. Sendo assim, o filme sobre Lula fará definhar de vez um certo jornalismo, que se apoderou dos meios de comunicação brasileiros há pelo menos quatro décadas.
Poucos filmes funcionarão tão bem como discursos políticos, como nunca eu havia visto reportagens tão cinicamente ficcionais, como as que acabaram por se tornar comuns no Brasil. Não admito essa forma de expressão de verdades. Os Barreto experimentam uma certa forma de fazer cinema de massa no Brasil, por isso penso que a escolha do tema por eles se deu isenta de outras motivações que não comerciais.
Há que se conferir o resultado, para se saber se a história estará bem contada. Porque a extraordinariedade de um drama bem construído e emocionante é somente passível de nascer, ou da imaginação de um profícuo artista, ou de vidas sensasionalmente vividas.
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